Ferramentas para ativistasEsta página tem notas que estão sendo continuamente modificadas.
Eduardo Ochs
1. Faça você mesmoUma das idéias básicas do Software Livre é a de desmistificar a distinção entre "programadores" e "usuários". No mundo do software comercial os "programas" são produtos acabados, que parecem meio mágicos - indústrias podem fazer coisas como aquelas, não seres humanos comuns ("programadores" e "nerds" podem ser capazes de fazer programas - "mas eles não são como nós"). No mundo do software livre os programas são como os fuscas costumavam ser - se o seu fusca desse um problema na estrada daqui a pouco alguém parava pra te ajudar (muita gente entendia de mecânica de fusca), e num instante a pessoa fazia um consertinho sem nem precisar de peças, te explicava tudo, e você ainda saía sabendo um pouco mais sobre o seu carro. A comunidade de Software Livre brasileira perdeu a noção da importância do "faça você mesmo" - a noção do que é importante se confundiu com a do que pode ser notícia em jornais e sites e blogs, então as pessoas acham que o que "falta ser feito" pro Software Livre se tornar popular são coisas monumentais, como por exemplo o Gimp (um programa livre) se tornar tão poderoso quanto o Photoshop. Você ajudar o seu vizinho a resolver um problema aparentemente complicado fazendo um script de duas linhas é algo que se tornou invisível. Uma imagem ainda melhor que a do fusca é a seguinte. Você vai morar fora da casa dos seus pais pela primeira vez, dividindo com amigos, e leva seus livros em caixas de papelão. Quando você chega lá eles te ajudam a fazer uma estante - improvisada, mas funcional - com tábuas, martelo e pregos. A partir daí você passa a reparar em como quase todos os móveis da casa seguem o mesmo princípio das tábuas pregadas - alguns são simplesmente mais bonitos que a sua estante improvisada, porque têm superfícies de fórmica, e quase todos têm pregos (ou parafusos) em posições estrategicamente escolhidas para ficarem mais resistentes. No Brasil nós temos uma divisão em castas, como na Índia, e tabus que associam certos trabalhos a certas castas. Na Índia um brâmane não lava o próprio banheiro, e quase ninguém aceita ser atendido por um dalit que se forme em medicina; no Brasil acontece a mesma coisa. Na Europa praticamente qualquer pessoa vai trabalhar como garçom, ou em algum de muitos outros trabalhos que não exigem qualificação, em algum momento da vida; na maior parte do Brasil quase todos os trabalhos têm códigos de casta rigidamente associados a eles. Em muitos aspectos da nossa vida cotidiana - como, por exemplo, para as tarefas mais simples que associamos a encanadores ou pedreiros - isto nos divide entre uma casta inferior, que faz, e uma casta superior, que contrata. Em Software Livre existe uma noção - há décadas - do que é um "bom design" para programas. Um motor de fusca tem um bom design - com pouco esforço se torna fácil entender como cada coisa nele funciona, e consertá-lo - mas em alguns sentidos uma estante tipo faça-você-mesmo tem um design melhor ainda, porque ela têm um efeito político: ela faz com que certas pessoas vejam como é absurda a parte da nossa cultura que diz que estantes "confiáveis" são necessariamente compradas em lojas e cobertas de fórmica - e é esta clareza de que às vezes uma estante improvisada é suficiente que possibilita, por exemplo, tanto eventos como a Feira do livro anarquista como a existência de editoras independentes. O design do sistema para arquivos de vídeos, e do sistema de áudios indexados, são baseados na idéia da estante improvisada com tábuas - quando você olha "dentro" desses arquivos de vídeos e áudios pra ver como eles são feitos você aprende a ver como muita coisa em computadores hoje um dia pode ser feita com "tábuas" e "pregos": HTML, arquivos em "plain text" (em contraposição a arquivos em Word), hiperlinks, arquivos de áudio em MP3, arquivos de vídeo em MP4, imagens em formato JPG, um pouco de Javascript (que você pode só ler e entender mais ou menos, ou até quase nada, e não precisa modificar), e pouca coisa a mais.
2. Como surge a documentaçãoSe alguém te diz "usa o programa tal, ele é fácil de aprender" você vai esperar que dê pra aprender a usá-lo só apertando os botões mais óbvios dele e vendo o que eles fazem, e lendo as primeiras páginas do "Help" dele - que deve ter um tutorial que explica as funcionalidades mais básicas - e vendo um videozinho sobre ele. Ou seja, hoje em dia um programa "fácil de usar" é um que tem uma interface muito bem feita, e uma boa documentação - tanto textual quanto em vídeos explicativos. Na seção anterior, sobre "faça você mesmo", eu tentei explicar porque é que a interface das ferramentas para ativistas nas quais tenho andado trabalhando não tem quase nada a ver com a dos "programas amigáveis" de hoje em dia - mas faltou explicar porque é que a _documentação_ pra essas ferramentas ainda é muito preliminar. Os motivos são vários. Meu trabalho principal (e ganha-pão), há muitos anos, é como professor de Matemática numa universidade. Em livros de Matemática, e nos cursos que a gente leciona, a gente sempre apresenta idéias para um "leitor ideal" imaginário que vai se transformando com o tempo. No início de um livro, ou de um curso, de Geometria Analítica a gente explica certas coisas com muito detalhe, porque a gente supõe que o leitor ou aluno está vendo aquilo pela primeira vez, mas mais adiante a gente já pode supor que o leitor/aluno já está familiar com aquelas idéias, e aí usamos estas idéias como se já fossem óbvias, e nos concentramos nos detalhes das idéias que naquele momento são novas. Em computação a gente faz a mesma coisa. No início de uma documentação bem feita eu deveria supor que o leitor nunca abriu o código-fonte de uma página HTML, e muito menos editou algo assim; mas mais adiante eu poderia dizer algo como "salve a sua versão modificada com outro nome e abra-a no browser" como se isto já fosse algo claro... o ideal mesmo seria fazer um texto online com um bom índice e cheio de hiperlinks, que leitores com conhecimentos medianos pudessem começar a ler pelo meio e no qual pudessem localizar rapidamente nos primeiros capítulos cada idéia que ainda não lhes é familiar. Eu espero chegar a ter um texto destes algum dia. O que as pessoas não se tocam é que documentação bem feita não aparece do nada - tipo porque alguém disse "vou escrever um manual bem feito pro programa tal!", e aí na semana seguinte este manual existe, e é ótimo. Talvez até existam pessoas - "profissionais" - que conseguem escrever bons manuais só porque decidiram, reservaram uma semana pra isso, e foram pagas pra isto. Mas eu não sou como elas - pra mim o trabalho de escolher a cada momento o que deve ser mostrado e encontrar o melhor modo de explicar exige uma concentração e uma energia enormes, e ele fica infinitamente mais fácil quando eu o faço para um "leitor ideal" de verdade, e posso ver o que é fácil e o que é difícil para ele, e ele faz boas perguntas... em especial quando esse "leitor" - deixa eu usar a imagem da seção anterior aqui - está interessado em aprender sobre as "tábuas" e "pregos", está começando a reparar que os "móveis" são feitos de "tábuas" e "pregos" em todo lugar, e está começando a visualizar "estantes" que ele pode fazer. Talvez a gente tenha se acostumado demais com a idéia de que "explicar" é sempre algo parecido com o que acontece na escola, em que um professor fala e os alunos escutam... e com isso a gente esqueceu que em situações de "faça você mesmo", nas quais estamos tentando montar a "estante" mais simples possível que atenda às nossas necessidades, nós vamos estar ajustando e melhorando o design dessa "estante" até o último momento, num diálogo que pode ser só com a gente mesmo mas que fica muito mais interessante se é com outra pessoa também... é este "fazer juntos" que estamos querendo retomar. 3. Piqueniques anarquistas...por sinal, muitos eventos anarquistas, principalmente fora do Brasil, começam com um momento em que as pessoas preparam comida juntas - o que é um modo simples e eficaz de pôr todo mundo num estado de fazer juntos e pensar juntos. 4. A síndrome do dever de casaEu fiz graduação em Matemática na PUC-Rio na década de 90 num curso incrivelmente bom. A minha turma era a maior que a Matemática da PUC tinha tido em anos, e era uma turma de 7 pessoas... a gente tinha muito acesso aos professores, uma super biblioteca, tínhamos as condições ideais pra estudar e pra discutir, e em geral o professor que dava cada matéria - por exemplo, Teoria de Grupos - era alguém que usava o conteúdo daquela matéria há anos na sua área de pesquisa, e aí esse professor tentava nos dar o curso de Teoria de Grupos que ele gostaria de ter tido. Isso queria dizer que a gente usava vários livros em cada matéria, quase todos em Inglês, e que a gente se familiarizava com 10, ou 100, vezes mais teoria do que a gente conseguia aprender a ponto de usar. Os professores recomendavam vários exercícios dos livros, alguns até pra gente entregar valendo nota - o que era um truque pra eles descobrirem o quanto a gente estava entendendo, e, mais importante, como a gente estava escrevendo tanto as contas quanto as demonstrações - mas a gente entregava muito pouca coisa... ...e aí a gente explicava - às vezes verbalmente, às vezes isso só ficava como que escrito na cara da gente - que a gente tinha trabalhado à beça nos exercícios tais e tais, mas ainda não tinha tido tempo de escrever as demonstrações pra entregar - e aí a gente deixava implícito que na aula seguinte a gente entregaria algo ainda melhor... e na aula seguinte acontecia a mesma coisa, e idem na outra, na outra, e na outra - e a nossa sensação de dívida aumentava cada vez mais... O Maurício, que estudava comigo, inventou um termo pra isto: a Síndrome do dever de casa. Hoje em dia eu entendo que os professores simplesmente nos recomendavam todos os exercícios que eles achavam interessantes, e que se por um lado a sensação de dívida fez com que a gente terminasse o curso pensando "agora eu preciso virar um matemático muito bom pra compensar a confiança que os professores depositaram em mim", por outro lado a vergonha fez com que a gente interagisse bem menos com os professores do que poderia. Acho que quando a gente explica algo sobre um programa pra alguém e a pessoa depois desaparece pra sempre isso muitas vezes é por síndrome do dever de casa. 5. Porque não aprender a usar istoDesculpas que eu já ouvi (umas ditas mais claramente e explicitamente, outras menos): Porque eu não entendo nada de computador Porque tecnologia é coisa de burguês Porque a interface é feia Porque a interface é feia e ninguém vai usar Porque a interface é feia e eu vou esperar ela ficar bonita 6. Fontes primáriasLá onde eu trabalho, em Rio das Ostras, nós tínhamos uma sensação de comunidade muito forte - e chegamos até a conseguir fazer várias mobilizações muito fortes, em algumas até levando muita gente pra rua. Agora isto está muito mais fraco - acho que principalmente porque os zumbis conseguiram acabar com os espaços de discussão pública - mas mesmo na época em que isto ainda não tinha acontecido já havia uma coisa que me incomodava. Eu achava que tínhamos que disponibilizar tudo que pudéssemos na internet - principalmente as "fontes primárias" de informação, como atas de reuniões, o documento do convênio entre a UFF e a prefeitura de Rio das Ostras, mas também todos os e-mails com discussões importantes, artigos relevantes mesmo que de gente de outras universidades, gravações, filmagens, etc - e nisso eu sempre entrava em choque com o pessoal do Serviço Social, que dizia coisas como "não precisa, ninguém vai ler isso, temos que fazer panfletos curtos e concisos que a gente possa distribuir"... Aos poucos fui vendo que esta idéia de que o que temos que produzir pra distribuir em atos de rua é sempre mais um resumo em tom de denúncia e revolta é exatamente correspondente ao que eu via os programadores "profissionais", que tinham vivido sempre dentro do mundo do Windows, fazendo, e que me revoltava - eles faziam tudo "para usuários", sem nunca notarem que o usuário-alvo do que eles faziam era uma ficção - alguém burro que não quer aprender nenhum conceito novo, mas que tolera ser treinado por instrucões passo-a-passo que não explicam o porquê de nada. [muita gente acha que a gente só pode distribuir algo editado, que "todo mundo vá conseguir ler/assistir"; resumir mais e mais; citar Umberto Eco no "Como fazer uma tese"; quem é o público-alvo de um texto ou vídeo? Massa, base, militantes, quadros, dirigentes - versus métodos anarquistas de empoderamento e faça-você-mesmo; a internet como biblioteca; texto do Gary Snyder; modos de indexar as fontes primárias] 7. As velhas esquerdas"Velhas esquerdas" é um termo vago, mas útil, que a gente acaba usando pra falar de grupos que se vêem como sendo de esquerda, mas que usam métodos que a gente considera velhos e ineficazes. Quando eu uso o termo "velhas esquerdas" eu estou usando a minha noção de quais métodos são velhos e ineficazes - e eles são, a grosso modo: "temos que nos unir!", gregariedade excessiva, medo de destoar, domínio da tecnologia ou de linguagem são vistos como traços burgueses, os textos produzidos são curtos e nivelados por baixo porque "ninguém vai ler textos grandes" e "ninguém segue hiperlinks"... (As "velhas esquerdas" que eu conheço são grupos de pessoas gregárias que socializam no bar e acreditam em atos de rua com bandeiras e muita gente; praticamente todos os conhecidos meus que se juntaram a movimentos estudantis tentam se mimetizar aos seus grupos abandonando "gostos burgueses" e passando a ouvir só samba, e acabam até mimetizando o comportamento machista dos colegas de bar. Pra essas pessoas internet, páginas web e tecnologias nas quais boa parte dos textos é em inglês são coisas de burguês, e elas têm medo de investir tempo nisto - repetir as fórmulas dos colegas parece mais garantido.) A greve mais eficaz que tivemos nos últimos tempos foi a dos garis no Carnaval de 2014 no Rio. Num certo momento a greve continuou apesar do sindicato; isto já aconteceu em outras greves importantes também, como na dos professores estaduais e municipais do Rio em 2013, e, em menor grau, na greve das universidades federais em 2012. (A maior parte do material que ajuda a desmontar discursos reacionários - textos, artigos, memes com frases - é produzido por esforços individuais, em momentos de inspiração, por iniciativa própria, e em situações não-gregárias; os anarquistas têm infinitamente mais espaço para ações individuais responsáveis que os socialistas.) (Reescrever esta seção!)
8. Guardando linksVárias pessoas já me perguntaram o que aprender, como ajudar, etc... na verdade a idéia principal pode ser muito resumida como "guarde seus links", e menos resumida como "guarde seus links em plain text" - porque plain text é um formato universal, fácil de compartihar e de ler e de converter para outros formatos tanto à mão quanto automaticamente... A seção "Faça você mesmo", lá em cima, é sobre isto, e na verdade as idéias que eu descrevo lá são essencialmente as do Software Livre, do Projeto GNU e do *NIX, com uma roupagem um pouco menos técnica. Eu ainda não consegui fazer com que a minha solução super low-tech pra guardar links - esta aqui - interessasse a muita gente... eu explico ela nas mini-oficinas quando dá, mas ainda não documentei ela o suficiente, e o ideal seria ter meios de fazer com que fosse fácil importar e exportar dados entre ela e várias ferramentas "modernas" que dependem de internet, como por exemplo: Browser bookmarks
9. "Confia em mim"Quando a gente conta a nossa versão de uma história, quase sempre a gente está dizendo, implicitamente, "confia em mim - não nos outros, não nas outras versões". Deixa eu pegar alguns exemplos específicos, pra não falar em abstrato. A guerra entre humanos e zumbis no PURO, resumida na parte 2 do "Saia do seu quadradinho"; as prisões preventivas de "vândalos" na final da Copa do Mundo (Fbcache, lista grande de links); o massacre de Gaza em 2014 (links); a performance Xereca Satânik (blog Faca na Caveira, uma página minha com links, artigo da Sara Panamby). Outro dia eu terminei um e-mail sobre o Fbcache dizendo: "Eu não aguento mais viver numa sociedade sem memória. Qualquer oportunidade pra desenvolver mais essas ferramentas ou fazer com que elas sejam úteis me interessa." Eu já quase não consigo mais controlar a minha raiva dos meus colegas que aparentemente estão lutando pelas mesmas coisas que eu, mas que estão sempre escrevendo mais um carta de repúdio, ou mais um texto pra mídia alternativa, sem nem sequer um link pro histórico das coisas anteriores - como se os leitores só precisassem de mais um resumo, como se eles não fossem capazes de ler coisas complicadas ou fontes primárias, como se a raiva de todos nós só precisasse de um pequeno estopim pra que aconteça a revolução; e como se nós tivéssemos razão, e como se já fôssemos muito unidos, e só precisássemos de um pequeno motivo e de uma migalha de liderança. Não acho que seja claro que cada um de nós, humanos, seja intrinsicamente melhor do que cada um dos zumbis como o Fontana ou o Moacyr. A gente é melhor porquê? Porque a gente é academicamente impecável? Péra, eu não sou academicamente impecável não - eu até já tive crises e depressões que fizeram com que eu cometesse montes de furos - Às vezes me dá a sensação de que os meus colegas humanos-de-esquerda são só pessoas com auto-estima alta, exatamente como os nossos inimigos zumbis-de-direita; tanto uns quanto outros sentem que têm razão, têm argumentos que justificam seus pontos de vista, se chamam de "nós", saem juntos pra tomar cerveja, se divertem, riem, e falam mal das pessoas do outro lado. Eu passei anos pensando o que eu poderia fazer pra eu poder me sentir realmente melhor do que os zumbis, que não fosse só algo relativizável, e talvez simétrico a algo que eles fazem. E, bom, encontrei. Em uma palavra, é transparência - é disponibilizar um histórico das coisas das quais eu e pessoas em torno de mim participam, pra que as próximas pessoas possam tirar suas próprias conclusões a partir de mais dados e idéias que eu - (continua...) 10. O óbvioToda vez que eu vou argumentar com alguém eu ajusto meu modo de falar. O meu modo é um se estou tentando expôr um argumento que me ocorreu na hora, ou há poucos dias atrás, e que não é óbvio pra nenhum de nós dois; é outro, bem diferente, se estou expondo algo que já está é conhecido de bastante gente; outro se estou expondo algo que é óbvio pra vários grupos de pessoas há décadas, mas que os meus interlocutores, leitores-da-Veja-com-horror-a-qualquer-coisa-escrita-por-comunistas-subversivos-e-baderneiros, provavelmente vão se recusar mais uma vez a ouvir... Vários dos meus motivos pra preferir apontar para as fontes ao invés de fazer mais um resumo de argumentos já repetidos mil vezes têm a ver com isto. Em julho e agosto de 2014 eu passei dezenas de horas transcrevendo as legendas boas - as da TVE, de 1990 e poucos - do "Manufacturing Consent: Noam Chomsky and the Media"... foi esse filme que me fez entender muitas coisas sobre porque a mídia e a política não funcionam como "deveriam" funcionar, e é interessantíssimo ver como o Chomsky expõe essas idéias pras platéias da época - ele deve ter gasto um tempo enorme trabalhando sobre modos de expô-las - e ver o que os diretores do filme fizeram pra estruturar essas idéias em forma de filme da forma mais fértil possível... Tente lembrar das vezes em que você tentou expôr algo que te parecia urgente e óbvio, e as pessoas em torno de você ficaram apáticas. Quando isso acontece - ou pelo menos quando acontece comigo - eu vou ficando de saco cheio, e passa a ser cada vez mais difícil eu encontrar um tom razoável. Se a gente mantém arquivos de vídeos, áudios e textos que a gente considera como fontes importantes, a gente tem acesso a registros de quando certos argumentos foram explicados com o melhor tom possível, e da forma mais viva possível. E se a gente não mantém ou não dá bola pra esses arquivos, porque afinal a gente tem mania de achar que só o que é notícia interessa de verdade, e que portanto o atual é sempre mais importante que o antigo, aí acontecem duas coisas. Uma, mais óbvia, é que o que eu já expliquei: a gente acaba dando preferências a textos e gravações menos claros e menos interessantes. A outra, menos óbvia, é que a gente torna invisível o que foi produzido pelos nossos colegas quando eles estavam mais envolvidos e mais inspirados; e agora eles estão frustrados e de saco cheio e acreditando que o que eles fizeram adiantou muito pouco e seus esforços foram desperdiçados, e eles têm toda a razão - e daqui a pouco vai ser a nossa vez: vamos estar de saco cheio e frustrados também, e das melhores coisas que a gente fez só vão restar vagas lembranças. Se a gente quer "competir" com a mídia corporativa a gente tem que fazer algo diferente, aproveitando que têm coisas que a mídia corporativa, pela sua própria natureza, não pode fazer. Por exemplo, nós podemos contornar a restrição da concisão, e a de que só o que é mais atual importa, usando hyperlinks, e tratando a internet como uma biblioteca enorme na qual o passado continua acessível, ao invés de tratá-la como se ela fosse como uma TV a cabo, só com muitos mais canais. (incompleto) 11. Casos individuais versus situação geralO site do Cadastro de Vídeos e Fotos-Denúncia: Violência Policial nos Protestos da Copa 2014 (veja a página com atenção, e por favor assista os dois vídeos de divulgação!...) tem uma iniciativa brilhante pra registrar casos individuais de violência policial - os vídeos que eles coletam podem ser usados por advogados para defender juridicamente vítimas de violência policial, e também para
A frase acima eu tirei do site. Repare, ela tem implícitos um "nós" (que vamos visibilizar e exigir), um "para quem" (que vamos visibilizar), um "de quem" (que vamos exigir), um "o quê" (que mudanças, que punições) e um "como" (vamos fazer isto). Ela é deliberadamente vaga pra não ocupar espaço demais com detalhes, mas acho que consigo imaginar quais são as respostas implícitas, e aqui nas Ferramentas para Ativistas eu tinha as mesmas perguntas - que "nós", "para quem", "o quê", "como", etc - e eu respondo elas diferente. Deixa eu explicar. Se uma pessoa é roubada ou espancada numa cidade pequena faz todo o sentido todo mundo ficar revoltado, bradar que aquilo é um absurdo, e exigir que a polícia se mobilize, resolva o problema, explique o que vai fazer, e tal. Se há anos dezenas de pessoas são roubadas e espancadas a cada dia, e há anos as explicações da polícia e das autoridades são sempre péssimas, a situação é um pouco diferente. Não é mais tão claro que a gente se indignar, denunciar e exigir mudanças vá mudar alguma coisa; aliás, não é nem claro que a nossa denúncia vá ser ouvida no meio de milhares de outras - e não sabemos nem mais quem deveria ouvir nossas denúncias... aí a questão principal passa a ser como direcionar nossas ações de protesto para que algo aconteça! E pra gente conseguir pensar sobre esse "como direcionar" a gente precisa ter uma noção clara de como as instituições funcionam... Algumas pessoas ficam apáticas porque não fazem idéia do que está acontecendo - e às vezes a gente faz vídeos, denúncias, abaixo-assinados, etc, pra tentar fazer essas pessoas "acordarem". Mas num outro extremo do espectro temos as pessoas que sabem bastante sobre o que está acontecendo, e não se indignam (aparentemente!) simplesmente porque não sabem o que fazer - "como direcionar" suas ações, na terminologia do parágrafo anterior. Arquivos grandes de vídeos etc são úteis pra estas pessoas, de um modo que não vejo sendo muito comentado por aí, que é o seguinte: esses arquivos permitem entender como as instituições estão funcionando, quais são as motivações e os discursos dos vários "atores", e permitem ver o que já foi e o que está sendo tentado, e nos dão material à beça pra pensar sobre brechas possíveis para mudanças. O que eu estou tentando fazer com o Link das ruas é complementar ao que eu acho que o Cadastro de Vídeos e Fotos-Denúncia tenta fazer. Meu foco é nas pessoas que - como eu - já sabem de atrocidades demais acontecendo cotidianamente demais, que não estão conseguindo fazer denúncias ou outras "ações concretas" porque já se sentem soterradas pelas evidências de quão pouco as denúncias funcionam, e que por um motivo ou outro não estão conseguindo ir muito nos protestos de rua; mas a gente consegue trabalhar em outros níveis, e até dialogar bastante com as pessoas que são coxinhas por falta de informação. "Mesmo quando a gente mostra 5 vídeos pra tia da gente"... Alguns links importantes:
Importante (2014jul10): o Link das ruas está quase sendo ressucitado! Estou terminando de reescrever as ferramentas que eu usava para manter o índice, e com as ferramentas novas devo conseguir acrescentar ao arquivo mais uns 600 vídeos que estão à espera, e aí organizar os vídeos no índice melhor, por data e em várias seções... ...mas se algo disto aqui te interessa, o meu pedido continua sendo o mesmo: aprenda a usar o sistema de áudios indexados - ele é base pra todo o resto!!! 12. Link das ruas - introduçãoO Link das ruas, que é um arquivão de vídeos do Youtube, é mais antigo e bem mais difícil de usar que os áudios indexados - mas acho que vale a pena pôr aqui uma cópia de uma introdução que eu escrevi pra ele (postada originalmente aqui e aqui):
13. Ascenção e queda do Link das ruasDeixa eu contar como é que o Link das ruas surgiu - e como é que depois de vários meses eu resolvi deixá-lo de molho e passar a cuidar quase só dos áudios indexados. Se a gente posta uma coisa no Facebook depois de uns três dias o nosso post já é praticamente impossível de localizar, a não ser que ele tenha uma foto ou vídeo - e depois de alguns meses os nossos posts que tinham só textos e links são apagados. Durante os protestos de 2013 as pessoas estavam postando milhares de links interessantes no Facebook, tanto para artigos em jornais e blogs como pra vídeos - links que apontavam pra fora do Facebook -, e, como era muita coisa, eu copiava pros meus arquivos de anotações todos os links que me pareciam interessantes, pra se eu quisesse acessá-los de novo depois... Por volta de setembro eu percebi que ninguém estava fazendo arquivos destes vídeos que fossem fáceis de acessar. Arquivos de links para textos eram até algo relativamente comum, mas arquivos para vídeos não, exceto por "playlists" no Youtube, e em quase todas as situações nas quais eu queria mostrar vídeos para alguém nós estávamos em alguma situação na qual a internet era péssima, então playlists do Youtube não bastavam - a gente precisava de algum esquema com cópias locais dos vídeos, com o qual pudéssemos acessá-los sem precisar de internet... isto virou o Link das Ruas (o nome foi uma sugestão do Rodrigo Modenesi), e no início ele era algo que só eu sabia editar e atualizar, mas que eu vivia distribuindo cópias em pen drives do arquivo - incluindo os vídeos! - para todos os interessados. Eu esperava que em algum momento outras pessoas fossem se empolgar pela idéia e fossem começar a me mandar novos links pra vídeos pra me ajudar, ou que algumas fossem perguntar ou discutir coisas como eu descrevi aqui, mas se passaram meses, nos quais eu distribuí, sei lá, talvez uns 40 ou 50 pen drives de 8G (a R$12 cada um), e nada... e o arquivo do Link das ruas chegou a 800 vídeos e não cabia nem mais em pen drives de 16G, aí eu vi que estava na hora de eu decretar que estava de saco cheio, e dar um "foda-se" - mais precisamente, se alguém mais estivesse interessado no projeto essa pessoa teria que parar de ficar esperando passivamente eu fazer tudo e ela teria que vir falar comigo, porra. É engraçado que 99% dos informatas pros quais eu mostrei o Link das Ruas só conseguem "pensar grande demais": eles querem uma versão do projeto na qual qualquer pessoa, de qualquer lugar do planeta, consiga baixar da internet de forma rápida ou todos vídeos do arquivo ou só os vídeos que as interessarem, e que qualquer pessoa possa editar, pela internet, o arquivo de vídeos acrescentando os novos vídeos que ela descobrir, e que o sistema ainda tenha uma autenticação que não permita que alguém avacalhe o arquivo, e que ainda por cima tudo tenha uma interface "amigável" que seja fácil de usar... Internet, internet, internet - essas pessoas agem como se os lugares sem internet (como 90% da área do campus da UFF no qual eu trabalho!) não existissem, e como se os lugares com internet ruim simplesmente precisassem de uma internet melhor urgente... mesmo a idéia de usar pen drives as ofende, e várias dessas pessoas têm em suas casas vários computadores ligados em rede, cada um funcionando como "servidor" de alguma coisa diferente... a noção de "diversão" delas deve ser bem diferente da minha! Eu no lugar delas teria um ataque de ódio e chutaria o balde na quinta vez que os cabos ou o roteador wifi dessem problema, mas elas não. Foi pra essas pessoas que eu tentei dar um jeito do arquivão do pen drive ser baixável pela internet por torrent, mas acabei desistindo disso também. Pouquíssimas pessoas saberiam e quereriam baixar esse arquivão por torrent, e eu não quero que as pessoas que ainda não sabem usar torrents achem que aprender isso é prioridade quando há tantas outras coisas mais urgentes. 14. Áudios indexados: introduçãoEu comecei gravando as reuniões do campus da UFF no qual eu trabalho - apesar de ser ameaçado por isso - pra ter provas dos absurdos que aconteciam lá... em especial pra poder mostrar que ok, entendemos que o ideal seria ter registros desses absurdos nas atas das reuniões, mas não podemos contar com isso (Saia do seu quadradinho, seção 26, "Regras para atas e gravações"). Os primeiros jeitos que eu inventei pra pular pra pontos específicos de gravações eram muito complicados; o jeito atual, que roda em qualquer browser - exceto talvez no Internet Explorer - é bem mais fácil de usar. Algumas gravações de reuniões lá da UFF de Rio das Ostras (os "*"s indicam as mais interessantes e com mais trechos transcritos): 14.1. Áudios indexados: mini-oficinasEu tenho tentado dar mini-oficinas sobre como usar o sistema de áudios indexados toda vez que posso... o que a gente precisa pra uma oficina dessas é: 1) eu com o meu netbook e um pen drive, 2) pelo menos mais uma pessoa interessada com seu notebook/netbook/algo assim (tablets e celulares não servem, porque é difícil editar o índice neles), 3) 15 minutos. Eu costumava pedir 4) internet suficiente pra gente acessar e baixar 6MB, mas já dei um jeito disto não ser mais necessário. Repare que no mundo atual a gente não consegue mais de 15 minutos de atenção de ninguém - as pessoas só sabem dar "like" nas coisas, estão muito ocupadas, dizem pra gente mandar pela internet que elas vão ver depois, e por mais que a gente mostre pra elas a seção "Como surge a documentação" e a gente explique como qualquer feedback ajuda (e pode ser por chat) elas nunca falam com a gente uma segunda vez - talvez por síndrome do dever de casa - então eu considero que tenho que dar um jeito de ensinar, ou mostrar, o máximo de coisas úteis possível em 15 minutos, de uma vez só, porque não vai ter outra... e isso muitas vezes em situações nas quais a outra pessoa nem está com o seu computador, porque às vezes eu falo sobre os áudios indexados com alguém e a pessoa fica interessada e diz "podemos marcar um dia?", e aí eu explico que em mais de 90% dos casos em que pessoas marcaram comigo elas ou desmarcaram depois ou simplesmente não apareceram, então eu não acredito mais em marcar nada - e aí eu pergunto: "você tem uns minutos agora?"... Eu tenho usado um pen drive com cópias destes arquivos: Os passos da oficina (na versão sem internet) são:
...e aí se a outra pessoa está com o computador dela e a gente tem internet, eu mostro como fazer essencialmente as mesmas coisas que as acima começando com cópias locais de índices e áudios baixando-os da internet. 14.2. Áudios indexados: interfaceA interface de um áudio indexado é deste jeito: Baby (Bia Grabois) ================== 0:00 0:21 Baby, eu estou indo embora (...) 1:12 Agora o seu olhar azul 1:18 Vai molhar lá fora 1:22 Baby, eu estou indo embora Em cima a gente tem um player simplinho, que pode ser usado pra dar "play" e "pause" num arquivo de áudio - e pra avançar, recuar, mudar o volume, etc. Embaixo a gente tem links, como "(1:12)", que fazem o áudio pular pra uma certa posição, e umas caixinhas, como "[ 1:12]", nas quais os "1:12" é editável; e além disso, quando o cursor está nessas caixinhas o "Enter" e o espaço são interpretados como comandos - "Enter" diz pro player "vai pra posição indicada na caixinha", e espaço diz pro player "dá pausa". 14.3. Áudios indexados: cópias locaisQuando a gente acessa um áudio indexado pela internet tudo demora. Se a gente quer pular pra posição 12:34 de um áudio grande o browser tem que baixar pelo menos o início do arquivo de áudio - uns 12MB... então em geral a gente vai querer baixar cópias locais dos áudios indexados, porque aí o computador não vai mais precisar acessar nada da internet, porque o áudio e o índice já vão estar no nosso disco rígido. Quase todos os meus índices de áudios - os ".html"s daqui - têm um bloquinho amarelo no final como este aqui,
Repare que se você seguir o link pro ".mp3" no browser ele vai abrir um player ainda mais simples que o acima - uma página só com um player, num fundo preto. Se você seguir o link pro ".html" você cai no índice pro áudio, e se você seguir o link pro ".html.txt" você cai no código-fonte em HTML para o índice do áudio. Mas o mais importante é que você pode usar estes mesmos links, clicando neles no browser com o botão direito e escolhendo a opção "Salvar como" (ou "Save link as"), pra salvar cópias locais destes arquivos no seu computador. E quando você bate control-U no browser numa página em HTML ele te mostra o código-fonte em HTML da página - ou seja, na verdade o link pro "ferramentas-a.html.txt" acima é desnecessário. Experimente baixar cópias no locais do "02._baby.mp3" e do "ferramentas-a.html" acima - ponha-as no mesmo diretório, e aí dê um jeito de abrir a cópia local do "ferramentas-a.html" com o browser. O Chrome e o Firefox costumam mostrar os últimos downloads de um jeito que te permite abrí-los com um clique; experimente clicar no ícone do download do "ferramentas-a.html" - tudo deve funcionar como quando você abre o http://angg.twu.net/ferramentas/ferramentas-a.html, mas talvez um pouco mais rápido, e o endereço na barra de endereço do browser deve ser algo começado com "file:///", como:
14.4. Áudios indexados: endereços "file://"Endereços (URLs) começados com "http://" ou "https://" são de coisas que são acessadas pela internet; endereços começados com "file://" são de coisas que estão no seu computador. Se você tirar a parte final - o "ferramentas-a.html" - do endereço da sua cópia local do ferramentas-a.html, e acessar no browser a "página" com o endereço resultante, que vai ser algo assim,
você vai ver que esta "página" é uma listagem do conteúdo de um diretório do seu computador - num formato (que eu acho) mais feio do que o desta listagem aqui, http://angg.twu.net/ferramentas/, mas que é igualmente eficaz. Você acabou de ver que o browser entende links para arquivos e diretórios locais - e você pode copiar estes links pros seus "favoritos" ("bookmarks"). Faça isto! 14.5. Áudios indexados: arquivos locaisAgora você vai precisar aprender a acessar estes arquivos locais fora do browser. Antigamente, quando todo mundo usava interfaces de linha de comando, todo mundo sabia que cada arquivo no seu computador está num diretório específico, e que cada arquivo tem vários "nomes relativos" e um só "nome absoluto" - agora isto virou um conhecimento técnico que pouca gente sabe! Por exemplo, "ferramentas-a.html" e "Music/ferramentas-a.html" e "../Music/ferramentas-a.html" são "nomes relativos", que podem funcionar ou não dependendo de "onde você está", e "C:/Users/fulano/Music/ferramentas-a.html", é um "nome absoluto", que funciona a partir de qualquer lugar. O nome absoluto de um arquivo pode ser obtido a partir da URL da cópia local dele - basta tirar o "file://". No Windows é comum haver uma complicação a mais: nas situações nas quais a gente navega pelo sistemas de arquivos clicando em diretórios o sistema costuma mostrar onde a gente está usando uma espécie de "nome de fantasia" ("para usuários"), como
mas em muitas situações um nome como "C:\Meu Computador\Usuários\Fulano de Tal\Minhas Músicas\ferramentas-a.html" seria problemático para alguns programas por causa dos espaços e dos caracteres acentuados (sério!), então um nome como este é equivalente a "C:/Users/fulano/Music/ferramentas-a.html" - "C:\Users\" é o modo como os programas se referem internamente ao diretório que é apresentado para o usuário como sendo "Meu Computador\Usuários"... idem para "Fulano de Tal" que vira "fulano", "Minhas Músicas" que vira "Music", etc... e em algumas situações o Windows usa "/" como separador na hora de mostrar nomes de diretórios, em outras ele usa "\" - mas em geral quando a gente usa "/", que é o padrão em URLs e no Linux, ele entende. O File Explorer permite usar tanto os nomes "para usuários", como "Meu Computador ▸ Usuários ▸ Fulano de tal ▸ ...", como os nomes "para programadores", como "C:/Users/fulano/"... Eu entendo muito pouco de Windows, mas me mostraram que no topo da janela do File Explorer, à esquerda de onde ele diz que você está em "Meu Computador ▸ Usuários ▸ ...", há um ícone que se você clicar ele ele mostra uma caixinha onde você pode pôr um nome tipo "C:/Users/fulano/" - por exemplo, o que você obteve pegando a URL local do "ferramentas-a.html" e retirando o "file:///" do início dela. 14.6. Áudios indexados: editando um índiceOutra complicação: o File Explorer em geral não mostra explicitamente a extensão, como ".html" ou ".mp3", dos arquivos - ao invés disto ele diz, em separado, qual é o "tipo do arquivo", e mostra o ícone do programa que irá abrí-lo se você clicar nele... o "02._baby.mp3" é aberto pelo Windows Media Player por default, e o "ferramentas-a.html" é aberto por default pelo Chrome ou pelo Firefox (ou pelo Internet Explorer) - mas se você clicar com o botão direito no "ferramentas-a.html" (que você vai ver como "ferramentas-a"), uma das opções é "Abrir com". O melhor modo de editar a sua cópia local do "ferramentas-a.html" é abrí-la com o Wordpad; vamos ver daqui a pouco como fazer pequenas modificações nela e vamos comparar a versão modificada com a original, então é melhor você usar o "Salvar como" do Wordpad (ou de outro editor) e salvar as suas versões modificadas com outro nome - por exemplo "ferramentas-a2.html", "ferramentas-a3.html". Faça isto: primeiro grave cópias do "ferramentas-a.html" ainda sem modificações, depois abra esta cópias no browser; pra abrí-la você pode ou modificar o endereço na mão, mudando de "file:///Users/fulano/Music/ferramentas-a.html" para "file:///Users/fulano/Music/ferramentas-a2.html", ou você pode abrir a listagem dos arquivos em "file:///Users/fulano/Music/" e aí selecionar o "ferramentas-a2.html". Repare que isto é o que foi mencionado brevemente na seção "Como surge a documentação" como "salve a sua versão modificada com outro nome e abra-a no browser" - só que ainda não fizemos as modificações. Se você examinar o código-fonte em HTML do "ferramentas-a.html", por exemplo seguindo o link pro ".html.txt" daqui (veja a seção "Áudios indexados: cópias locais"),
você vai ver que ele tem uma parte que é assim:
A parte entre o " Você acabou de aprender a modificar um índice!!! =) 14.7. Áudios indexados: usando outro arquivo MP3O próximo passo é um pouquinho mais complicado - pra criar um
índice para um outro áudio você vai ter que copiar o outro
arquivo de áudio, digamos "2014fev36-reuniao.mp3", para o mesmo
diretório do seu índice, com um nome que não tenha
espaços, nem caracteres acentuados, nem outros caracteres
potencialmente problemáticos, e modificar o "
para " 14.8. Áudios indexados: dicas para os índicesAqui vão algumas dicas sobre como editar índices. 1. Mantenha o editor (Wordpad) e o browser abertos ao mesmo tempo. Toda vez que você fizer modificações e salvá-las, vá para o browser e dê um "reload" (control-R) pra ele mostrar a versão nova com o índice atualizado. 2. Eu costumo começar marcando onde começa a fala de cada pessoa simplesmente criando uma linha que diz, por exemplo, "12:34 fulano". Em trechos poucos importantes em que nem vale a pena ser muito detalhado eu ouço o áudio pulando bastante, e quando vejo que mudou a pessoa que fala eu só crio uma linha como "23:45 beltrano", mesmo que ela aponte pro meio da fala da pessoa. Em lugares mais importantes eu ponho algumas palavras-chave da fala da pessoa, e ponho asteriscos nos lugares muito importantes. Depois que eu já fiz essa parte inicial eu às vezes transcrevo falas que eu considero mais importantes ainda, e que acho que pode valer a pena ter elas escritas por extenso. Estes aqui são dos poucos índices nos quais eu cheguei a detalhar bem algumas partes, e até transcrever algumas delas:
3. A minha convenção é que um áudio chamado "2014jan26-reuniao.mp3" é indexado por um HTML chamado "2014jan26-reuniao.html" - isto é, eu só mudo a extensão, de ".mp3" para ".html". Isto faz com que dê pra pôr muitos áudios e índices no mesmo diretório e tudo ainda pareça mais ou menos organizado... como aqui:
4. O formato dos índices é simples exatamente pra que seja fácil pessoas mandarem contribuições por e-mail, ou até por chat... dá pra elas mandarem o arquivo HTML inteiro, se elas tiverem feito (ou melhorado) um índice, e também dá pra elas só mandarem algumas linhas usando cortar-e-colar. Repare que mesmo que elas façam cortar-e-colar num índice a partir do browser, onde cada marca de tempo vira um retângulo e um link, o que elas vão mandar é algo como
e é super fácil eu pôr isto no formato da seção "Áudios indexados: editando um índice". 14.9. Áudios indexados: o que indexar?Eu tenho usado o sistema dos áudios indexados principalmente para gravações de reuniões, mas ele serve pra muitas coisas. Por exemplo: Músicas (áudio) Músicas (vídeos) Reuniões das quais você participou por falas suas por falas de outras pessoas pra fazer atas pra fazer transcrições pra mostrar pra outras pessoas pra divulgar pra outras pessoas Reuniões com pronunciamentos públicos de pessoas em cargos de responsabilidade de pessoas "normais" Entrevistas pra mostrar pra transcrever inteiras pedaços Material bruto pra mostrar pedaços pra editar pra quem quiser saber o contexto de algo editado Material editado Situações nas quais você disse algo brilhante Situações nas quais você disse algo que deveria ser secreto Situações nas quais você se comportou como um babaca 14.10. Áudios indexados: onde?Nem sempre a gente vai querer indexar áudios para pô-los na internet - aliás, isso é até bem raro! Normalmente a gente começa com áudios que ficam só no nosso computador (topo da lista abaixo); à medida que a gente desce na lista a gente passa para casos que exigem mais técnicas, mais documentação, e são mais raros. Você pode querer que um certo áudio com índice fique: No seu computador No seu computador e no de um amigo confiável No seu computador e no de poucos amigos supostamente confiáveis Num pen drive que você mostra pra poucas pessoas Num pen drive que você copia pra poucas pessoas Num pen drive que poucas pessoas copiam entre si Num pen drive que muitas pessoas copiam entre si Na rede, num endereço secreto Na rede, num endereço público mas difícil de achar Na rede, num endereço público que o Google conhece Pra sua família Anexado a um processo 14.11. Áudios indexados: tipos de sigilo...e nem todo áudio pode ser posto na rede sem que apareça algum maluco ameaçando nos processar! Vale a pena discutir cada um dos itens abaixo... até pra gente ficar a salvo de situações como esta aqui. Qual é o efeito de um "favor não divulgar"? Qual é o efeito de um "esta reunião é pública e vai ser gravada"? Qual é o efeito de instruções sobre como copiar? Qual é o efeito de instruções sobre como baixar da rede? Qual é o efeito de divulgar a legislação sobre gravações? Qual é o efeito de ameaçar pessoas de processos? Qual é o efeito de ameaçar pessoas de retaliação (assédio)? Qual é o efeito de quebra de códigos de conduta? 15. Testes: JavaScript(Eu tenho usado isto aqui pra explicar como o JavaScript funciona...) <textarea id="input_a" cols=60 rows=5> </textarea> alert(1+2+3+4) alert('1+2+3+4') alert(from_textarea('input_a')) alert(eval(from_textarea('input_a'))) to_pre('output_a',from_textarea('input_a')) to_pre('output_a',eval(from_textarea('input_a'))) <pre id="output_a"> </pre> 16. Testes: áudiosUse isto aqui pra entender como o Javascript produz um índice em HTML com esta interface a partir de um índice fácil de editar por humanos... <audio preload="auto" controls> <source src="ferramentas/02._baby.mp3"> </audio> <textarea id="input_c" cols=60 rows=5> </textarea> to_pre('output_c','') to_pre('output_c',from_textarea('input_c')) audio_activate_from_textarea(0,'input_c','output_c') <pre id="output_c"> </pre>
17. Testes: vídeosTeste para o htmlizador de índices de vídeos (veja o Link das ruas e a seção Link das ruas: Introdução): <textarea id="input_b" cols=87 rows=14> </textarea> to_pre('output_b',from_textarea('input_b')) to_pre('output_b',yt_htmlize(from_textarea('input_b'))) to_pre('output_b','') <pre id="output_b"> </pre>
Se você entendeu como editar a cópia local do "ferramentas-a.html" pra fazer um áudio indexado, tente baixar uma cópia local do "ferramentas-v.html" e editá-la - os princípios são os mesmos que para os áudios, mas os truques do htmlizador são diferentes (veja o exemplo acima). A dica mais importante é: ignore a parte sobre fazer cópias locais dos vídeos e sobre incluir os nomes das cópias locais no índice (como linhas terminadas em ".mp4")... esta é a parte difícil, pra qual você vai precisar aprender a usar um programa chamado youtube-dl... Dá pra usar o "ferramentas-v.html" só pra organizar coleções de links. 18. Vídeos: regras do htmlizadorO htmlizador dos áudios indexados (seção anterior) é bem simples: ele só transforma cada marca de tempo, como "12:34", em algo como "[ 12:34] (1234)", ou seja, uma caixa editável e um link - e não há outras regras. O htmlizador dos índices de vídeo é bem mais complicado: ele primeiro processa todo o texto que vai virar o índice, extrai (e deleta dele) as linhas que terminam com ".mp4", e usa-as para determinar quais dos links pra vídeos do Youtube correspondem a vídeos locais; depois disto ele processa de um jeito as linhas que têm links pro Youtube, de outro as que têm links pra outros lugares, e de outro jeito as outras linhas. As regras são as seguintes:
18.1. Vídeos: gerando índices com o YdbOs índices de vídeos, como o linkdasruas.html ou o ferramentas-v.html, são feitos de uma forma parecida com os áudios indexados. É possível editar o HTML deles na mão sem grandes dificuldades, e é até fácil acrescentar vídeos novos - mas é difícil manter manualmente a lista de cópias locais dos vídeos e baixar as cópias locais que faltam. Em 1º/agosto/2014 o programa que eu uso pra manter o linkdasruas.html ficou fácil de instalar e de testar pela primeira vez - e agora estou pedindo pra vários amigos meus o testarem. Todas as informações estão no README dele. Links:
19. Arquivos de posts textuais do FacebookO Facebook me emburrece - quando eu entro nele eu passo horas vendo posts políticos com coisas que não saem na mídia corporativa, porque são essas coisas que o software do FB seleciona pra me mostrar, porque ele é como uma televisão que adapta sua programação pra prender a atenção do espectador o máximo possível... e eu aí via esses posts na minha timeline e pensava "Q*ralho, isso não pode se perder", mas o máximo que eu conseguia fazer era copiar os permalinks pra um arquivo de notas, e às vezes eu punha uma descrição, como aqui,
mas em geral eu estava apatetado demais pra inventar uma descrição ou até pra pôr um tag, então eu só guardava o link, da mesma forma que eu guardava links pra vídeos do Youtube... a idéia era que uma lista de links pra posts do Facebook podia ser algo tosco, mas já serviria pra alguma coisa - eu poderia pôr tags e descrições algum dia, afinal - e um dia eu poderia criar um jeito de baixar os conteúdos dos posts do Facebook, e fazer algo melhor. Pois bem, agora (nov/2014) eu tenho esse algo melhor! =) Eu crio (com um script em shell) uma lista de todos os meus permalinks pro Facebook e ponho ela aqui:
e aí um programa meu - o Fbcache - baixa cópias locais de todos os posts mencionados nessa lista, e produz isto aqui, um arquivão único, com uma seção pra cada um dos posts, e com o texto (por enquanto sem os comentários) de cada um destes posts... Os posts ficam ordenados por ordem cronológica no "huge.txt.html", e repare que o link pro post sobre as prisões preventivas (o "#715611308486879") vai mais ou menos pra onde começam os posts sobre "estado de exceção", que eu inicialmente estava tentando pôr aqui... O formato do "huge.txt.html" é feio, e tem alguns tipos de posts que eu não consigo baixar - mas a versão atual do meu programa é um protótipo, feito pra mostrar que fazer arquivos de posts textuais do Facebook é possível, e pra despertar interesse e conseguir ajuda de outros programadores. O README do meu programa está aqui.
Alguns links (técnicos - um dia vou explicar tudo isto detalhadamente) sobre quais URLs eu consigo baixar, quais não, e os poucos "porquê"s que eu conheço por enquanto... preciso de ajuda de pessoas que conheçam a Graph API! 20. Segmentação(Postei isto no Facebook em 7/ago/2015...) O Facebook tá segmentando tão bem as pessoas - tipo: quem é de esquerda só recebe as notícias das fontes de esquerda, quem é de direita só recebe das fontes de direita, mas é algo bem mais detalhado que isso, com mais categorias - que eu não ouvi falar nada sobre o tal do panelaço antes de ouvir ele ao vivo enquanto eu andava de bicicleta... 21. Desisto, fodam-se todos vocêsUm comentário que eu postei neste thread (num grupo fechado, em 14/out/2015)... Respondendo ao "até pra gritar a gente precisa de mais informação. Faz mais de ano que não leio nada sobre o caso" do Idelber... Tem muita informação nestes arquivões aqui,
...mas, como eu já disse num outro post curto que eu fiz aqui, eu passei milhares de horas trabalhando nessas coisas e centenas de horas correndo atrás dos ativistas que se consideram "pessoas normais" e "analfabetos digitais" pra eu tentar entender como eles pensam e pra fazer esses arquivos, que eram protótipos, ficarem mais fáceis de usar... mas eu consegui tão pouco feedback que acho que a principal coisa que eu ganhei nesse processo foi o direito de passar a dizer "já fiz a minha parte", "desisto" e "fodam-se todos vocês". Péra, deixa eu acrescentar um detalhe importante. Eu moro no Rio de Janeiro, e, como todos sabem, cariocas só conseguem lidar direito com gente que é casual e sorridente. O meu "fodam-se todos vocês" é meio teatral, claro - e eu tenho usado ele como uma ferramenta pra encontrar nichos de não-carioquice por aqui. Se alguém quiser conversar comigo por chat, por favor não hesite. 22. Dificuldades conceituais22.1. CloudHoje em dia os programadores costumam supor que você tem um computador e um smartphone, e que você quer que os seus aplicativos rodem igual nos dois - porque os seus dados estão "na nuvem"... mas o fbcache roda no seu computador e só; ele baixa dados - páginas do Facebook - da rede, mas estes dados ficam no seu computador e são privados, não são compartilhados nem com o seu smartphone. 22.2. UsuárioProgramadores também tendem a querer fazer coisas pra "usuários" - programadores querem que até usuários com poucos conhecimentos técnicos consigam instalar e usar seus programas em dois minutos. Daí não importa pra esses programadores se o programa deles é complicado por dentro; se o programa parece simples por fora isto o torna "usável", e pronto. Como explicar pra esses programadores que eu estou trabalhando em algo que borra a distinção entre "programadores" e "usuários", e que partes do que eu estou fazendo não dependem da instalação de programas novos? Por exemplo, se um usuário aprende a copiar URLs do browser pro editor de texto e do editor de texto pro browser ele já se torna muito mais capaz de fazer um arquivo de links importantes, e de compartilhar este arquivo com outras pessoas... e isto não depende de programas extras. 22.3. Ninguém lê coisas grandesVárias pessoas com as quais eu já conversei dizem que: "algo como o linkdasruas não interessa a ninguém, porque ninguém assiste vídeos não editados ou compridos demais", e "ninguém lê textos grandes". Repare: "ninguém". Meus pais tinham muitos livros e eu, criança, fui me familiarizando com os livros da casa aos poucos, aprendendo onde estavam os que pareciam mais interessantes e quais eram os assuntos. Quando eu estava na faculdade eu muitas vezes passava um tempo na biblioteca na sexta feira procurando algo pra levar pra casa pra ler, ou só pra olhar. A internet veio depois, e eu via ela como algo parecido com uma biblioteca muito grande. Eu sei lidar com arquivos grandes e bibliotecas - então não é "ninguém". E "deve" ter mais gente como eu... Mas quem, exatamente? Uma primeira resposta: historiadores, pesquisadores, e jornalistas... talvez não os jornalistas que só entendem do aqui e agora, mas muitos jornalistas escrevem seus artigos situando os fatos imediatos dentro de um contexto - Uma segunda resposta: cada pessoa sabe lidar com bibliotecas e arquivos e textos grandes em algum grau - algumas sabem pouco, outras muito, mas isso é uma habilidade que se desenvolve, e as pessoas que sabem fazer isso melhor muitas vezes são formadoras de opinião - principalmente agora, já que muita gente escreve posts e comentários no Facebook, e os posts e comentários com mais informações tendem a ser mais compartilhados. 22.4. Notícias"As pessoas só se interessam pelo que é notícia". Ou seja, arquivos não são "interessantes"... Tem várias seções aqui que rebatem isto: "Ninguém lê coisas grandes", "Confia em mim", O óbvio, Casos individuais versus situação geral. 22.5. Segurança e privacidadeMuitos programadores são obcecados por segurança e por ensinar as pessoas a se protegerem da Google, do Facebook, e dos outros serviços que coletam dados sobre nós à medida que os usamos... E se a gente partir do pressuposto de que não dá mais pra gente se proteger bem? Que em algumas situações na rede a gente tem um pouco mais de privacidade, mas em geral a gente não tem nenhuma? Aí o problema mais importante deixa de ser a gente se proteger (porque não dá) e passa a ser a gente usar a "memória" da rede do melhor jeito possível... por exemplo, digamos que há dois anos atrás eu vi um texto genial sobre como no Brasil quando a gente elege um político a gente está dando carta branca pra ele fazer o que quiser, e eu quero relê-lo e usá-lo numa discussão... como eu o localizo? 22.6. "Eu não sei programar em Lua"stackoverflow PHP/Python Com informação suficiente alguém de PHP consegue testar uma idéia minha, e talvez até postar questões no stackoverflow grep, Snyder, Eco, horas-bunda, mudar a visão das pessoas sobre bibliotecas e greps, Kopenawa 23. The death of the hyperlink24. Spartacus BooksTexto de um cartazinho que eu deixei na Spartacus Books (em jan/2014):
25. Agradecimentos(Lista incompleta, mais ou menos em ordem cronológica...) Rodrigo Modenesi
|