Você tá perdendo o decoro e nós não queremos isso (2025)
1. A fala da CrisNa reunião do RCN de 26/jun/2025 a Cris fez a fala abaixo; pra entender melhor o contexto veja a página sobre a reunião. Pra ir pro ponto onde a fala da Cris começa clique nesta timestamp: 1:31:34; esse link vai pra transcrição, e lá as timestamps são links pra pontos do áudio no Youtube. Eu deletei algumas das hesitações da Cris - alguns "é..."s e algumas outras.
À primeiríssima vista a fala da Cris é impecável: os meus coleguinhas estão muito, muito, muito ocupados, e se eu não for super claro, super sucinto, e se eu não usar o tom certo ninguém vai ouvir o que eu tenho pra dizer. Mas à segunda vista a fala dela tá toda bugada: 1) os meus coleguinhas vão conseguir resolver vários problemas bem mais rápido quando eles souberem certas informações, 2) a estratégia dela de me tratar como uma criança descontrolada tendo um chilique só funciona a curtíssimo prazo - veja as seções "É óbvio", "Tomar providências" e "Mais horizontais" do "Ordens burras, versão catchorro", e 3) pra mim é muito estranho em pleno 2025 alguém reclamar de um protesto que incomoda, como se a gente não tivesse passado os últimos 12 anos, pelo menos, discutindo sobre as pessoas que dizem que "pode protestar na rodovia desde que não atrapalhe o trânsito e não atrase ninguém" e as que consideram que numa manifestação de 100 mil professores na Cinelândia por melhores condições de trabalho os 100 mil professores perdem totalmente a razão quando uma pessoa picha uma parede ou quebra uma vidraça do Santander - obs: preciso achar o meus melhores links sobre isso! Tem o "Ok, mas" o post sobre Black Blocs, e o "Ninguém lê coisas grandes", mas preciso lembrar onde estão os outros... 2. Foco no alunoEu discordo totalmente deste trecho da fala da Cris:
Um amigo meu usou os termos "universidade privatizada" e "universidade democrática" - compare com a "universidade militar" e a "universidade de chinelo" daqui, e com o "espírito da universidade" daqui. Muitos alunos estão chegando na universidade totalmente perdidos, e ao invés deles verem a universidade como um lugar onde eles vão experimentar vários modos de se relacionar com outras pessoas, vão criar redes de contatos, e vão "aprender a fazer as perguntas que ninguém estava conseguindo fazer", eles vêem a universidade como um lugar onde eles só assistem as aulas, fazem as provas, e fazem perguntas pro ChatGPT. Se eles tiverem acesso às nossas discussões sobre isso - incluindo as brigas - vai ser muito mais fácil eles descobrirem como mudar de padrão. Além disso o termo "foco no aluno" pode ter muitos significados - acho que a gente tem que desmontar ele em vários, como eu fiz com o termo "o trabalho do departamento" aqui. 3. Um trecho do GoffmanPra explicar o resto do que eu pensei eu vou começar citando dois trechos de um ensaio do Erving Goffman de 1955. Repare que esse ensaio fala de um mundo onde cada pequeno gesto tem consequências, e que é bem diferente do mundo atual, em que a gente pode fazer cagadas incríveis e basta a gente botar a culpa nos remédios psiquiátricos que a gente tá tomando agora e dizer que a gente vai mudar na nossa próxima ida ao psiquiatra. O primeiro trecho é este (GoffmanFacePtP9, p.18):
4. Outro trecho do GoffmanIsso aqui é outro trecho (GoffmanFacePtP20, p.29):
5. Se a Cris...Se a Cris supusesse que nós todos somos pessoas racionais interagindo com colegas que vão trabalhar junto conosco durante anos ela teria imaginado que se eu decidi fazer coisas que estão "comprometendo a credibilidade do departamento" (01:34:57), isso provavelmente era porque eu tinha boas razões pra achar que isso era a resposta correta. Resposta correta ao quê? O mais produtivo seria a Cris tentar entender o contexto... O início da história está no e-mail de 500 linhas, e tem links pra ele no "Vc não deu vs". A Cris disse que que tentou ler o "Vc não deu vs", mas
Ela também disse que o meu modo de me comunicar não é "normal" (01:32:33), como se isso não fosse algo que eu soubesse muito bem... se ela tivesse me pedido rótulos eu teria dito o que eu já disse em mil situações, que é que 1) eu tenho alguns traços autistas - mas não os suficientes pra um diagnóstico de TEA - e 2) que todas as pessoas com as quais eu convivo mais se comunicam muito melhor por escrito do que por voz... ...além disso, se ela tivesse conversado mais comigo, ou lido mais dos textos que eu tenho escrito e deixado BEM VISÍVEIS, ela teria entendido o que eu acho sobre professores universitários que "não tem tempo" de ler nada e nem de abrir link nenhum - ou que acham "ler" e "links" "muito complicados". 6. Já passouAo invés da Cris tentar entender o contexto ela resolveu que eu estava perdendo o controle, o decoro, e a razão. Eu fiz mil hipóteses nos dias seguintes aos da reunião. Aqui vai uma delas: a Cris acha que nada no universo é grave o suficiente pra justificar que uma pessoa levante a voz; quem levanta a voz sempre perde a razão. Além disso, "trabalhar juntos num ambiente bom" quer dizer basicamente "todo mundo usar um tom de voz tranquilo"; e se nada - exceto levantar a voz - é muito grave então os meus coleguinhas terem aberto um processo administrativo absurdo contra mim, e com isso terem gasto centenas de horas de trabalho minhas e da banca do PAD, não é grave; pode até ter sido grave, mas já passou... e se os meus coleguinhas abrirem um novo processo absurdo contra mim, também baseado em acusações falsas, depois de um tempo esse novo processo já vai ter passado também - tudo passa. E se a gente tem que ser feliz no presente e o passado sempre já passou então eu também posso passar dez anos cometendo atrocidades - mas vamos combinar: desde que elas sejam um pouquinho menores do que as dos meus coleguinhas, tá? - e aí depois eu tiro um tempinho pra descansar, faço um pós-doc, e volto bem. Quando eu voltar bem eu vou estar tranquilo e usando sempre os tons de voz certos, e aí todas as atrocidades vão ter passado, e nós vamos viver felizes e harmoniosos para sempre (de novo). Eu entendo esse modo de pensar, mas eu não gosto dele. Eu prefiro pensar que a gente vai ser responsável por tudo que faz, e que se a gente fizer alguma merda a gente vai ter que tentar consertar ela depois. A Justiça pensa desse jeito, aliás. |