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Tati 11/10/2018

2016-t

T: Oi, Ochs.
É Tatiana Pequeno aqui. Queria dizer que diante de tudo que está nos acontecendo, tenho pensado mto em ti, preocupada. E que nossas diferenças talvez, agora, não devessem falar mais alto pois temos uma luta mais grave em comum.
E: Oi Tati
E: Diferenças?
E: Até onde eu sei nós somos inimigos.
T: eu não penso nem nunca pensei assim
o fato de eu precisar de um afastamento - por uma série de motivos - é que eu acho que vc não quis/ não pôde entender
E: É difícil entender pessoas que não falam com a gente. Não é entender, é adivinhar.
E: Deixa eu te contar como eu estou vendo a situação de agora.
E: 1) Nem um miligrama de pedido de desculpas.
E: 2) Você quer alguma coisa de mim. Mas o que eu ganho em troca? Anos de silêncio?
T: tá, vamos lá:
E: Você já se tocou de que o que nos "grupos do Idelber" eu tinha pessoas que respondiam quando eu falava com elas?
E: E que em você eu tinha alguém que dizia que toda vez eu me sentia frágil, me expunha e pedia ajuda eu era uma farsa, alguém que se faz de vítima e de santo - e que merece é porrada?
T: 1) a gente pede desculpas qdo entende que errou. pra mim é claro que eu não errei com vc pq nem eu nem vc "deve" nada a ninguém . a gente tem respeito e afeto. E às vezes precisa se afastar qdo entende que o outro está sendo nocivo.

2) eu não quero nada especificamente de vc, ochs. meus dedos passam pela lista do WhatsApp às vezes por conversas mais distantes e eu vejo seu rosto. Quando vejo seu rosto, sinto que devíamos estar nas mesmas trincheiras daquilo que estamos vivendo, mas entendo seu posicionamento de não querer. Acolho.
3) Acho que seria bom a gente lembrar que nem tudo é sobre a gente Eu. É sobre um nós, muitas vezes impossível de acordo com certos contextos. Nunca quis ou acreditei que vc merecesse levar porrada.
Já te ocorreu pensar que nosso &
E: Entrando numa consulta médica. Te respondo depois.
T: Beleza.

Faltou um ponto de interrogação ali depois do "serviço" seguido dos parênteses.
E: Vou responder aos poucos.
E: Eu achava que a coisa mais óbvia que existia entre a gente era uma espécie de "pacto de reconhecimento mútuo" - nós dois sabíamos que somos ambos pessoas com fragilidades e necessidades grandes e complicadas
E: E que a gente tem calos em lugares inesperados, e às vezes um pisa num calo do outro que não sabia que existia - e aí a gente precisa explicar, conversar, se desculpar e aprender como não fazer aquilo de novo.
E: E eu achava que esse nosso pacto incluía o reconhecimento de que nem sempre a gente vai conseguir fazer bem pro outro - mas que a gente tentaria se apoiar e se valorizar etc à distância.
E: Você era uma pessoa que eu queria que ficasse viva e bem. Você era uma pessoa que eu achava muito importante ter na "academia", no sentido amplo disso, que inclui trabalho fixo estável e visibilidade.
E: Bom, algumas das coisas que mais me voltavam à cabeça quando eu tinha ataques de pânico e paranóia - que tomaram boa parte do meu tempo e energia nos últimos anos, e só consegui que eles diminuíssem de alguns meses, ou um ano, pra cá - eram coisas que você me disse em nov/2016.
E: O pacto foi quebrado, Tati.
E: Isso foi muito pesado pra mim.
E: Aí agora eu sou só uma pessoa aleatória nos seus contatos de whatsapp que deveria ser sua aliada.
E: Eu também te vejo como uma pessoa egoísta que só vê as próprias demandas - sem nem conseguir pôr isso em termos um pouco mais humanos, como por exemplo "desculpa, eu tava tão ocupada com a minha dor que eu não conseguia ver claramente coisas fora de mim".
E: Foi muito difícil pra mim lidar com o que aconteceu.
E: Eu volta e meia tinha esperanças de que a gente se reconciliasse.
E: Aí a gente se falou de novo em dez/2017, e depois só agora. Tudo foi absolutamente canhestro.
E: É engraçado, eu me vejo como a única pessoa de nós dois que se desculpa... isso me lembra uma piada que eu li nas Anedotas do Pasquim quando eu era bem pequeno, sobre dois coronelões do Nordeste, daqueles que não dizem desculpa, licença ou obrigado nunca... os dois estão indo atravessar uma ponte minúscula em que só passa um carro por vez, cada um com o seu Porsche ou whatever importado, cada um de um lado. E eles páram, cada um esperando o outro dar passagem - e a piada dá a entender que eles vão ficar assim eternamente.
E: As pessoas tem jeitos diferentes de lidar com pedir desculpas. E você está sendo macho.
E: Eu não quero isso.
E: Já pensei MUITO a respeito - muito MESMO - e descobri que prefiro te ver como inimiga, não te dever mais nada e considerar que nós dois fomos libertados do pacto de proteção e respeito e apoio.
E: Não vejo uma reconciliação possível em vida.
E: Eu ficava repetindo pra mim mesmo - antes da ascensão do Bolsonaro; agora dizer algo assim pega mil vezes pior, mas vou vomitar essa informação assim mesmo - que no dia do seu velório eu iria prestar homenagem à pessoa incrível e querida que você foi durante anos e lamentar o nosso afastamento... mas antes disso não.
E: Aliás, lamentar o nosso afastamento eu lamento, publicamente até, mas não vejo como consertar.
T: Sim, pode ser um modo de ver as coisas...
Essa coisa do macho que sempre nos atravessa, né? Também tenho/ tive essa sensação contigo. De que você estava sempre com um caderninho inspecionando a minha feminilidade/ o meu feminismo pra ver se ele te colocava dentro, se ele te... você, de novo, essa pessoa, para quem tudo devia girar em torno dela, de mimá-la, de agradá-la como a um reizinho ou como a princesa (de quem vc sempre falou/ idealizou).
Certamente tb sou uma pessoa difícil, concordo, mas nunca tive dificuldades de pedir desculpas, como não tenho, insisto.
vc não deveria ser aliado de ninguém, nem eu, a não ser que quiséssemos.
era apenas isso mesmo que queria dizer pra vc que teve uma importância imensa na minha vida, tanto que confiei por anos na &
E: d6
E: Não foi arrogante. É que eu esperava que você tivesse tentado falar comigo mais vezes, e esperava que alguma vez você tentasse pelo menos explicar coisas que você disse na conversa do "como se você fosse um santo".
E: Eu tentei te proteger durante anos, mas eu tinha limitações gritantes
E: As de quem cresceu num mundo em que tudo que tinha a ver com carinho era proibido aos homens, e que depois virou adolescente num mundo em que tudo tinha que ser casual e envolvimento emocional proibido
E: Às vezes o espaço em que eu me sentia mais à vontade pra ser carinhoso era o que surgia quando nós dois nos sentíamos excluídos juntos
T: eu acho que nós temos limitações mto grandes. eu tenho muitas.
acho a conversa do "como se fosse santo" ruim. eu muito (res)sentida, como sempre, na defensiva. e na crença obsessiva de que vc só me rejeitava.
aquele encontro rápido tb que tivemos por acaso no jd botânico uma vez tb foi péssimo, só nos indispôs um pro outro. E depois eu terminei minha análise com a Beth de um jeito péssimo, e acho que acabei colando vc a ela e de fato não pude contornar o rasgo que se deu entre nós. porque tínhamos que ter conversado, inclusive pessoalmente.
E: É
E: Mas eu não via brecha pra conversar pessoalmente
E: E eu nem consegui descobrir se era pra eu ir no seu casamento ou não
T: sim, e aí vc foi e ficou falando da valéria... pra mim era como se eu não existisse
E: E acho que você não conseguiu entender o quão isolado eu estava naquela época - e mergulhado em fobia
E: S
E: E você ficou 100% do lado da Valéria como se eu fosse um maluco fazendo fofoca e esfregando no seu nariz brigas irrelevantes com a minha namorada com quem eu me dava bastante bem
E: "Sororidade"
E: Talvez a gente vá ter sempre essa sensação
E: Você acha que eu não te vejo e trato como alguém que não existisse
E: E eu acho que você me vê como alguém absurdamente privilegiado que se dá bem com multidões de pessoas
T: sim, mas eu nunca conversei com a valéria sobre vc. e a aproximação dela em relação a mim se deu muito em relação à poesia... eu sempre tive mesmo essa sensação de estar diante de pessoas com x privilégios a mais que eu e eu tendo que sorrir nas fotos ou ser amorosa o tempo todo. mas depois dessa onda de violências, umas alunas minhas foram agredidas na praça xv e outro aluno gay foi atacado depois da passeata do elenão, eu passei a me dar conta de que nós teríamos de baixar as armas das lutas individuais - ou tentar fazer isso nas análises ou entre nós mesmos - para ficarmos juntos e mais fortes. porque o que vem por aí é o terror.

eu comecei uma outra análise pq de fato tava/ tô precisando.

e é isso
E: Tá, mas eu não vou baixar a guarda contra pessoas que me lêem exatamente de acordo com A Maldição
E: ...que é que como eu tenho um corpo masculino então É ÓBVIO que eu só quero comer e descartar os outros - e que eu sou só isso no fundo, e uma cima disso tem uma camada grossa de mentiras só pra parecer legal e comer o zoto
E: Cara
E: Eu tenho dito pra todos es mes amigues que
E: A única coisa parecida com uma "fantasia sexual" que eu tenho de quatro anos pra cá
E: É segurar pelas orelhas a próxima pessoa alo que ficar sexual na minha direção e ARREBENTAR A CABEÇA DELA CONTRA A PAREDE
E: Eu quero que todo mundo se foda, sabe
E: Isso vai mudar quando alguém tiver coragem de se aproximar de mim e me convidar pra tomar um sorvete
T: um alguém desconhecido?
E: Mas por enquanto eu só quero jogar na cara de todo mundo que eu tou de saco cheio, que eu me sinto totalmente excluído
E: Não, pode ser alguém conhecido
T: então eu te chamo prum sorvete
T: é um convite
E: Ok. Pode ser perto da minha casa?
T: onde vc tá morando?
E: No sofá da casa da minha mãe no Jardim Botânico
T: e a sua casa de RO?
E: Também. Metade da semana no Rio, metade em RdO.
T: E a Selana?
E: Vai e vem sempre comigo de lotada dog-friendly
T: vc falou de ser perto da sua casa por algum motivo específico?
a gente não precisa se ver se vc achar que não vai rolar
E: Ei, vou ter que interromper pra comprar comida num a quilo antes que ele feche. Vou ficar unresponsive durante uma meia hora
T: ok, tb to indo dar aula
E: Depois eu explico
E: Depois de eu comprar almoço eu tenho que ir numa reunião. A gente se fala mais tarde então... boa aula, beijos

2022-t