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Notas sobre SJWs 2: a verdadeira biblioteca
(Postado originalmente em 15/abril/2016 num grupo fechado, numa discussão
sobre isto.)
Deixa eu compartilhar umas idéias que eu tenho usado pra lidar
com isso... 1) Há muuuuitos anos atrás eu li um texto do Gary
Snyder chamado "The forest in the library" - PDF aqui: http://angg.twu.net/LATEX/forest.pdf - em que ele vê a cultura
escrita como um ecossistema... um trecho:
When asked "What is finally over the top of all the information
chains?" one might reply that it must be the artists and writers,
because they are among the most ruthless and efficient information
predators. They are light and mobile, and can swoop across the tops
of all the disciplines to make off with what they take to be the
best parts, and convert them into novels, mythologies, dense and
esoteric essays, visual or other arts, or poems. And who eats the
artists and writers? The answer must be that they are ultimately
recycled to the beginners, the students. That's where the artists
and writers go, to be cheerfully nibbled and passed about.
2) Num capítulo d'"O Zen e a arte da manutenção de
motocicletas" - aqui: http://angg.twu.net/zamm-13.html - o autor
faz uma comparação entre a universidade e o prédio de uma
igreja, que foi vendido, dessacralizado e transformado num bar, e ele
usa isso pra mostrar como o conceito "universidade" pode ser dividido
em dois: a "verdadeira universidade" e o "prédio da universidade".
Lá vai um trecho, de três parágrafos:
"A verdadeira Universidade, disse ele, não tem uma
localização específica. Não possui bens de espécie
alguma, não paga salários e não recebe mensalidade. A
verdadeira Universidade é um estado de espírito. aquela grande
herança de pensamento racional que nos foi legada através dos
séculos e que não existe em nenhum lugar específico. É
um estado de espírito regenerado no decorrer das eras por um
corpo de pessoas que tradicionalmente recebem o título de
professores; mas nem esse título faz parte da verdadeira
Universidade. A verdadeira Universidade não é nada menos que o
próprio corpo da razão, que se perpetua.
Além desse estado de espírito, a "razão", existe uma
entidade jurídica que, embora infelizmente chamada pelo mesmo
nome, é outra coisa completamente diferente. É uma empresa sem
fins lucrativos, um ramo do Estado, com um endereço
específico. Possui bens, paga salário, recebe dinheiro e,
nesse processo, pode reagir às pressões do legislativo.
Mas essa segunda universidade, a pessoa jurídica, não pode
ensinar, gerar conhecimento ou avaliar idéias. Não é, de
modo algum, a verdadeira Universidade. É apenas um edifício de
igreja, um cenário, uma localização que propicia
condições favoráveis à existência da verdadeira
Igreja."
3) Da última vez que eu usei essas idéias numa discussão
lá no campus lixo da UFF onde eu trabalho eu acrescentei mais uma
cerejinha no topo. Vou copiar aqui três parágrafos relevantes do
e-mail pra lista de discussão do colegiado - o e-mail inteiro, com
links, está aqui: http://angg.twu.net/horas-bunda.html...
"A "verdadeira universidade" é a porta de acesso para a
"verdadeira biblioteca". A "verdadeira biblioteca" é o conjunto
de tudo que já foi escrito até hoje - milhões de livros, a
imensa maioria deles escrita por pessoas de culturas tão
diferentes da nossa que não conseguiríamos entendê-los sem
preparação.
A "verdadeira universidade" transforma as pessoas primeiro em
"consumidores" destes livros, porque as torna capazes de lê-los;
e depois em "produtores" de livros, porque os alunos aprendem a
argumentar e escrever bem, e no fim das suas graduações eles
escrevem TCCs, e talvez artigos.
As atividades culturais - donde o exemplo extremo canônico
é obviamente a Xereca Satânik, http://angg.twu.net/2014-xs.html - fazem com que as pessoas tenham
acesso a visões de mundo muito consistentes e muito diferentes
das mais comuns que a gente encontra por aí. Sem as atividades
culturais, as de convivência e as discussões políticas
nós nos transformaríamos todos em maníacos das
horas-bunda..."
4) Um cara chamado Hossein Derakhshan, que é um blogueiro
iraniano que passou seis anos preso, tem escrito
a beça sobre como a internet que ele encontrou quando saiu da
prisão é totalmente diferente da de antes... a anterior era uma
"internet-biblioteca", a atual é uma "internet-televisão".
Uma dos traços que eu acho mais importantes nas discussões com
SJWs é que essas pessoas vivem só na "internet-televisão",
onde tudo é imediato, ganha quem chama mais a atenção, quase
tudo se perde rápido, e o passado é praticamente inacessível
- ou melhor, "ninguém se interessa por ele".
Nas nossas discussões com SJWs a gente tem tentado entender
como essas pessoas funcionam, como dialogar com elas já que a
interação não é racional, etc, e a gente tem produzido um
bocado de material interessante sobre isso - enquanto os SJWs e outros
ativistas calaboquistas estão sempre só repetindo os mesmos
"argumentos" over and over and over again.
5) O Chomsky fala a beça sobre mídias com obrigação de
concisão no Manufacturing Consent - p.ex., aqui: http://angg.twu.net/consensofabricado.html#concisao
"O Greenfield, ou como quer que se chame, acertou em cheio. A
mídia dos EUA é a única que exige concisão das pessoas.
Você precisa dizer coisas entre 2 intervalos comerciais, ou em
600 palavras. Isso é muito importante, porque o valor dessa
concisão, sabe como é, um par de frases entre 2 comerciais,
está em que só permite pensamentos convencionais."
Então, não sei vocês, mas pra mim tem funcionado bastante bem
escrever textos sobre posições minhas não-convencionais
importantes que não cabem em "um par de frases entre 2 comerciais",
e nas discussões no Facebook postar o link do meu texto e dizer "a
minha posição tá aqui" - e um bonus extra é que quando eu
faço isso vai ficando claro que as outras pessoas não sabem
sequer guardar links e copiar e colar eles entre o editor de texto e o
browser.
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