E-mail pro ForumPPG sobre programação e planos BsOi gente, vou aproveitar a discussão pra puxar um outro assunto. Não faço idéia do quanto as coisas que eu vou contar aqui se aplicam a outros campuses/campi precarizados, então vou contar tudo em primeira pessoa ao invés de generalizar... Eu trabalho num campus pequeno da UFF - o de Rio das Ostras - que é super precário, e eu tenho dois ex-alunos, que eu vou chamar de A e B, que querem virar professores universitários no futuro. Eles têm uma noção vaga de que esse projeto deles é dificílimo, mas acho que eles ainda não conseguiram ver o quão difícil ele é, e nem quantos planos Bs, Cs, Ds, etc eles vão precisar ter pra conseguirem sobreviver enquanto eles fazem pós-graduações, trabalhos fora da academia, e concursos... Aqui em Rio das Ostras a gente tem dois cursos de graduação em STEM - Ciência da Computação e Engenharia de Produção, no Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) - e quatro cursos de graduação em "Outros": Enfermagem, Produção Cultural, Psicologia e Serviço Social, no Institudo de Humanidades e Saúde (IHS). O ICT e o IHS ficam em prédios diferentes, separados por uma ruinha que só foi asfaltada há poucos anos atrás, e eu costumo me referir ao IHS e ao ICT como o "Instituto de Humanidades" e o "Instituto de Desumanidades". Os meus ex-alunos A e B são ambos da Engenharia de Produção (EP), e eles têm muito contato com os alunos de Ciência da Computação (CC) e bastante contato com os alunos do IHS. Muitas das aulas do ICT são no prédio do IHS. Esses meus ex-alunos A e B têm pouquíssimo interesse por programação, e eu acho isso APAVORANTE em termos de futuros possíveis e planos Bs. Aliás nos seis cursos daqui - INCLUINDO O CURSO DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO, ÉÉÉÉÉÉ SIIIIIIM - os alunos têm pouquíssimo interesse por programação, e os que têm algum interesse fazem praticamente tudo sozinhos... aqui a gente não tem uma cultura de oferecer mini-oficinas pros colegas, ir nas mini-oficinas dos outros, e tentar grudar nas pessoas que são fluentes num programa X que nos interessa porque é muito mais rápido aprender com alguém que já sabe do que aprender sozinho pesquisando na internets. Agora a história vai piorar... Faz décadas que eu passo boa parte do meu tempo livre trabalhando num projeto de Software Livre que deveria servir pra ajudar as pessoas a aprenderem Linux/*NIX e um monte de linguagens específicas, como por exemplo o Maxima, que é um programa de computação simbólica fodão mas difícil de aprender... esse meu projeto é trivial de instalar no Linux e muita coisa dele - incluindo a parte da interface com o Maxima - roda bem no Windows, mas a instalação no Windows é meio chata. Eu de vez em quando ofereço oficinas sobre esse meu projeto - vou passar a me referir a elas aqui como "oficinas sobre Emacs e eev" - mas os alunos não se interessam... em 2023 eu consegui que três alunos fizessem a oficina básica sobre Emacs e eev (de 40 minutos!) num laboratório do IHS, cada um num dia separado, e isso foi meio que um novo recorde - nos anos anteriores o máximo era dois interessados por ano... Esse ano eu resolvi que iria pleitear uma bolsa de monitoria pra Cálculo 3 _se eu tivesse indícios de que teria candidatos a monitor de Cálculo 3 que tivessem interesse em aprender Maxima_ - e Emacs e eev, óbvio - e mandei esses e-mails daqui pra todos os alunos que fizeram Cálculo 3 comigo de 2019 pra cá: o interesse foi quase zero - detalhes no link acima. Bom, aqui a gente tem um curso de Ciência da Computação, e então os alunos - pelo menos os da Computação, caramba! - deveriam ter alguma noção do que é Linux/*NIX e alguma curiosidade sobre essas coisas, né? Mas fora meia dúzia de gatos pingados nenhum tem... e nenhuma matéria do ICT põe os alunos pra terem contato com Linux ou algum outro *NIX, os laboratórios do ICT não têm nenhuma máquina com Linux acessível pro alunos, e o único laboratório "público" que tem máquinas com Linux aqui é um laboratório do IHS - e quando os alunos do ICT usam as máquinas de lá eles ficam putos e com a impressão de que Linux é um Windows gratuito em que os programas com interfaces gráficas são todos meio bugados - e só, o resto é um mistério. Foi só agora nessas últimas férias que eu vi que tava na hora de eu parar de mendigar o interesse desses alunos - e eu mudei de atitude pra "chega, gente, se vocês não têm interesse nenhum nos meus projetos eu também não vou ter mais interesse em oferecer atividades extras ou optativas pra vocês, tá? Agora eu preciso cuidar da minha saúde mental e parar de esmurrar a parede. Bjs." Tomara que essa historinha inspire outras pessoas a contarem outras coisas. E se alguém tiver curiosidade em dar uma olhada no tal do meu projeto de software livre aqui tem alguns links:
E sobre os meus cursos, boa parte do material dos meus cursos do último semestre está aqui:
[[]]s,
|