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Maurício
1.
Eu postei esse relato no grupo Assexuais do Facebook na sexta
22/jul/2017.
O meu encontro com o Maurício tinha sido na
quinta 21/jul/2017.
GENTE -
Eu só queria contar que ontem foi a estréia mundial de uma resposta na qual eu vinha pensando há muito tempo.
Eu encontrei um ex-colega de graduação que já era bem pirado antes mas que piorou muito nos últimos anos. Ele fala compulsivamente há 10 anos sobre os mesmos assuntos chatos, que são principalmente Economia, História, Política, Cuba e Sexo.
Ele é gay e muito, muito, MUITO alo. É raríssimo ele falar sobre alguma espécie de carência emocional - acho que ele nem consegue pensar nesses termos - mas ele tem mania de falar sobre as fantasias sexuais dele e sobre penetração. Eu vivia tentando cortar ele, dizendo que eu não tenho nenhuma afinidade com esses assuntos, e de vez em quando - por exemplo, quando ele começava a contar sobre as experiências com travestis prostitutas, eu dizia PORRA, MAURÍCIO, QUE NOJO, EU NÃO QUERO OUVIR SOBRE ISSO, EU NÃO CONSIGO ENTENDER SEXO COM DESCONHECIDOS, mas não adiantava, ele não me ouvia.
Pois bem.
Há um tempo atrás finalmente ficou claro o suficiente pra mim - longa história que eu não vou contar agora - que eu há mais de 10 anos tento ouvi-lo e ajudá-lo de alguma forma, mas ele não ouve nada das coisas importantes que eu tento contar pra ele... ou não ouve ou não entende, não faz diferença - então dane-se que ele anda muito pirado MESMO e que ele alterna entre ex-viciado e viciado em cocaína, eu vou manter distância e cuidar mais de mim e evitar os encontros com ele, que me deixam mal.
A gente combinou de se encontrar num lugar onde eu ia passar pra comer acarajé pra eu devolver dois livros dele que estavam comigo.
Eu contei pra ele que eu tava há meses MUITO decepcionado e triste puto com ele, principalmente por conta de uma cantada que ele me passou há uns meses atrás, que era pra ser simpática, mas que me fez ver o quão pouco ele me entendia, e que me deu a sensação de que a atração que ele tinha por mim estava na mesma gaveta mental da que ele tinha por travestis prostitutas.
A gente passou uma meia hora praticamente em silêncio. Ele ficava procurando coisas pra dizer e não encontrava, e eu tava com raiva e com a sensação de que não adiantava muito conversar.
Aos poucos ele foi conseguindo que a gente conversasse, mas volta e meia ele tentava falar sobre sexo - só que dessa vez eu cortava imediatamente.
Numa hora ele disse que eu devia deixar de ser tão defensivo e "tentar de novo".
Eu disse: "pra quê? Pra acontecerem coisas parecidas com as que já aconteceram, e pra eu passar de novo 3 anos sem conseguir olhar nos olhos de ninguém e pensando em suicídio quase todo o tempo?"
Aí ele disse algo que eu não lembro e eu dei um socão na mesa e disse:
"MAURÍCIO, uma diferença entre a gente é que você esquece tudo muito rápido. Você volta e meia conta de novo seus 3 ou 4 traumas de infância mas só, você nunca lembra nada tão grave posterior a eles. EU VOU TE ESPANCAR E VAI FICAR TUDO BEM, porque em 5 minutos você já vai ter esquecido."
E, bom, a resposta era essa. Isso ele OUVIU.
2.
Conversa num grupo do Whatsapp em 6/ago/2017 (editada).
Eduardo Ochs: Tou indo encontrar um amigo meu que eu tou com ódio dele e uma ex-professora nossa que é uma pessoa fantástica e que eu não vejo há anos
Eduardo Ochs: Depois eu conto
Eduardo Ochs: Só uma palhinha do que aconteceu hoje
Eduardo Ochs: Personagens: eu, o Maurício e essa nossa ex-professora, que se chama Iaci e acabou virando terapeuta bioenergética
Eduardo Ochs: A Iaci tava muito curiosa pra ouvir os dois lados da história da minha briga com o Maurício e ela ficou usando umas técnicas (bem honestas) pra ajudar todo mundo a se ouvir
Eduardo Ochs: Eu mandei o Maurício se fuder várias vezes e ele respondia dizendo que eu sou uma pessoa muito veemente e que eu só quero falar sobre os meus assuntos, que sempre são coisas pessoais e que me incluem
Eduardo Ochs: (Ele meio que tava reclamando de eu ter ficado de saco cheio de ouvir ele falando sobre Democracia, História, Economia e Cuba)
Eduardo Ochs: Ah, e ele disse que eu sou uma pessoa muito difícil e usou como exemplo que eu e o meu pai brigávamos a toda hora, que eu não conversava numa boa com o meu pai)
Eduardo Ochs: Eu expliquei que boa parte da minha putidão e agressividade não tinham nada de descontrole, que eu tava realmente sinalizando que eu tava de saco cheio dele e que o que eu queria era distância mesmo
Eduardo Ochs: Aos poucos a Iaci foi entendendo porque eu ficava tão irritado/desesperado/whatever quando o Maurício voltava pela milésima vez a tentar conversar sobre sexo, penetração, travestis prostitutas, quem é gay de verdade e quem não é, quem é homem ou trans de verdade etc
Eduardo Ochs: Quando a gente saiu de lá - porque a Iaci ia encontrar a filha dela - o Maurício perguntou se podia ir comigo no lugar onde eu tava pretendendo comer pizza e estudar e eu disse "não".
Eduardo Ochs: Esse foi o mini-resumo das aventuras de hoje =) depois eu comprei doces árabes, um caderno artesanal, uma almofada super bonita no Museu do Folclore e agora tou estudando num estacionamento cheio de food trucks onde vai rolar um show de Tribal e Dança do Ventre
Eduardo Ochs: E a pizza ficou pra depois =)
Lou: Edu?
Lou: Eu, de boa, queria entender como pq vc acha todo mundo uma merda
Lou: Juro. Não entendo
Eduardo Ochs: Lou?
Lou: Oi?
Eduardo Ochs: Não sei se entendi a pergunta
Lou: Pera
Eduardo Ochs: Vish, não posso reclamar não?
Lou: Eu sempre penso em quem vc gosta, além de selanq
Eduardo Ochs: Aqui no Rio eu tenho gostado de pouca gente
Lou: É que vc só mostra o que há de ruim nos outros.
Eduardo Ochs: E quase só de pessoas com as quais eu tenho tido relações de aula
Eduardo Ochs: Outro dia conheci umas pessoas incríveis, nada cariocas
Lou: Há outras pessoas além de sua relações nas aulas. Relaxa
Eduardo Ochs: Mas é mais fácil falar mal de um jeito divertido do que falar bem
Eduardo Ochs: Putz, Lou, fudeu
Eduardo Ochs: Você acabou de entrar na lista das pessoas com as quais eu TENHO que brigar
Eduardo Ochs: Por causa desse "relaxa"
Lou: Manda o block
Lou: Pq nunca achei que vc falasse mal de um jeito divertido
Lou: E estar com medo de "entrar na lista" é escroto demais em um grupo
Eduardo Ochs: Relaxa, Lou
Eduardo Ochs: Prometo que se eu tiver algo pra falar mal de você eu falo primeiro pra você e de algum jeito que ajude a gente a se entender
Eduardo Ochs: Só me lembro de duas coisas que eu poderia falar de ruim de você... lá vão: 1) acho você um pouco grossa, mas nada de grave, e
Eduardo Ochs: 2) acho que a gente só deve dizer "relaxa" pra alguém quando a gente vai ajudar a pessoa a relaxar e a se sentir mais segura, e quando tá claro que "relaxar" não vai deixar ela ainda mais vulnerável à coisa da qual ela tá tentando se defender... ah, e quando a gente vai entender se a pessoa não conseguir relaxar.
Eduardo Ochs: Tem algo em especial que esteja fazendo você ficar com medo de eu pôr você na lista das pessoas de quem eu falo mal, ou na das que eu odeio, ou no meu caderninho das vinganças ou algo assim?
Lou: Absolutamente
Lavínia: Nossa que golpe baixo e sujo e escroto
Eduardo Ochs: Eu achei é patético
Eduardo Ochs: Ele devia ter uns objetivos na cabeça quando falou isso
Eduardo Ochs: Mas ele errou o alvo por uns 2Km
Lavínia: Usar briga com o pai como forma de provar que a pessoa é "difícil" é muito baixo
Eduardo Ochs: TODO mundo via o meu pai como uma pessoa difícil
Eduardo Ochs: Ok: quase todo mundo
Lavínia: Então, e eu acho muito baixo usar essa dificuldade para provar um ponto sobre VOCÊ
Eduardo Ochs: E pô, eu tenho uma coisa que é considerado algo super aquariano... eu em muitas situações vejo canalhices, golpes baixos, etc como coisas humanas e não como bissurdos inadmissíveis inaceitáveis imperdoáveis... mas eu aceito essas coisas quando elas são feitas de algum jeito interessante, que tenha alguma espécie de criatividade, charme, inteligência, sei lá...
Eduardo Ochs: Esse argumento do Maurício eu achei burro e bobo e feio.
Eduardo Ochs: Não provou ponto nenhum e perdeu muitos pontos.
Lavínia: Super entendo seu ponto
Eduardo Ochs: Ah, a Iaci contou que quando ela se mudou pro Rio, acho que por 1980 e poucos - ela é de São Paulo - sempre acontecia uma coisa engraçada quando ela tentava participar dos papos dos grupos de amigos dela na praia...
Eduardo Ochs: Ela falava raramente, mas sempre quando ela falava as pessoas ficavam sem jeito é mudavam de assunto.
Eduardo Ochs: Quando ela contou isso eu disse que um jeito que eu inventei pra descrever coisas do jeito carioca que eu odeio é
Eduardo Ochs: Que quando você concatena três idéias em sequência os cariocas dizem "ih, o cara, aí, tá complicando muito, relaxa"
Eduardo Ochs: Aí a Iaci disse que eram bem por aí sim... que ela como paulista, fica ouvindo e pensando e só fala quando tem algo pra dizer...
Eduardo Ochs: Os cariocas são o oposto, eles só falam sobre besteiras, quando alguém fala algo que tem um pouquinho de pensamento por trás eles ficam sem saber o que fazer
Eduardo Ochs: E aí mudam de assunto.
Eduardo Ochs: Detalhe: a Iaci é professora universitária... os amigos dela deveriam ser pessoas mais cabeça que a média...
Eduardo Ochs: Vou usar essa sacação da Iaci nas minhas teorias luanológicas e lucianológicas.
Eduardo Ochs: E elmaridonológicas.
Lou: Boa tarde
Eduardo Ochs: Oi Lou
Eduardo Ochs: Melhorou?
Lou: bêbado é uma desgraça. Desculpa, viu?
Eduardo Ochs: Ok, desculpada
Lou: Ufa!! Não vai se repetir
Eduardo Ochs: Vou confessar que eu fiquei bem grilado
Lou: Não precisa. "Relaxa"
Lou: Desculpa mesmo
Lou: Dona Sônia soube criar...rssss
Eduardo Ochs: Desculpada mesmo, mas vê se quando você for fazer algo assim de novo pelo menos explica pra pessoa porque você ficou tão puta com ela
Eduardo Ochs: Ainda mais quando a pessoa for eu
Lou: Sou pessoa de difícil convivência, Edu. Bem complicado isso. Tipo um Mr Hyde que me habita. Às vezes saio falando merda. Isso não justifica a minha grosseria de ontem com você.
Lou: Ou com qualquer outra pessoa. Tou tentando trabalhar melhor isso, mas não é fácil
Lou: Tipo: ficar calada pro que não me acrescentar em nada.
Lou: Ser, enfim, uma pessoinha melhor
Lou: Não sei falar muito bem a meu respeito.
Lou: Sorry, people.
Eduardo Ochs: Eu ando tentando lidar com o meu lado Mr Hyde, que não é pequeno, fazendo com que partes dele fiquem menos secretas e mais conversáveis... o que é uma estratégia meio diferente da sua...
Eduardo Ochs: Os meus pânicos são mais fáceis de contar que as minhas raivas.
Eduardo Ochs: Uma grande ex-amiga minha me disse que eu fico me fazendo de vítima e de santo e eu achei isso bizarro.
Eduardo Ochs: Aí ontem me ocorreu fazer umas imagens de um São Eduardo, padroeiro das vinganças.
Eduardo Ochs: Acho que eu vou virar padroeiro de outra coisa também.
Lou: Já confundiram meu lado mau como vitimismo. Mas a grande merda na minha neura é o jogo do contrário. Eu me acho "legal" e depois acho que a merda sou eu.
Lou: Vou atrás
Eduardo Ochs: Como assim? Como você vê esse "legal" quando você se acha uma merda?
Eduardo Ochs: A Iaci fez um jogo de idéias muito louco no qual a conclusão era que eu sou uma pessoa hipersexual que realmente dá em cima de todo mundo... então São Eduardo também vai ser o padroeiro das
Eduardo Ochs: ...das pessoas que dão em cima de todo mundo e não pegam ninguém e que fica a maior confusão sobre se as segundas intenções delas são sexuais ou não.
3.
Conversa no Whatsapp com uma amiga em 8/ago/2017.
Eduardo Ochs: Eu preciso muito escrever sobre uma coisa que aconteceu no sabado, e quando eu escrever preciso te mostrar
Eduardo Ochs: Um ex-amigo meu - o Mauricio, com quem eu briguei - me chamou pra gente ir encontrar uma ex-professora nossa que virou terapeuta bioenergetica e e' bem amiga dele
Eduardo Ochs: vou procurar no historico do Facebook... so' tou deixando pra depois porque essa nossa ex-professora - Iaci - me mandou um e-mail exatamente agora, e tou respondendo e tentando aproveitar pra organizar algumas das ideias...
Eduardo Ochs: a coisa que mais me incomodou no encontro com ela foi que quando ela me fez umas perguntas sobre porque eu resolvi comecar o tratamento hormonal - e o assunto acabou indo pras epocas em que eu tinha muito, muito nojo de mim mesmo -
Mô: Ela perguntou meio que questionando, achando errado?
Eduardo Ochs: ela disse "voce precisa se tratar", e eu entendi esse "voce precisa se tratar" como um "desapareca das esferas publicas ate' voce resolver essas questoes"
Mô: caralho!
Mô: dá vontade de responder: eu estou me tratando, inclusive com hormônios.
Eduardo Ochs: e acho que ela tinha a sensacao de que era algo que eu poderia resolver rapido
Mô: como é que um ser humano doer por ser algo rápido de resolver?
Eduardo Ochs: eu tou me tratando inclusive mudando o meu modo de lidar com esses assuntos, e aprendendo a conversar sobre eles em publico, e aprendendo a dar patadas nas pessoas que lidam mal com isso
Mô: um dedo doer por causa de um arranhão é rápido.
Mô: isso é bom. eu tô precisando aprender a me colocar.
Eduardo Ochs: pois e', mas as pessoas nao tem nocao de que a gente esta' lidando com coisas que sao tao profundas que as raizes delas estao enroscadas em todas as nossas outras raizes.
Eduardo Ochs: no dia eu nao dei patada nenhuma na Iaci.
Eduardo Ochs: `as vezes as pessoas querem que eu aja com mais autoconfianca mas eu nao tenho de onde tirar essa autoconfianca
Mô: eu às vezes dou patada tentando ser eu e me fodo.
Mô: eu também não.
Mô: aí as patadas são brigas comigo mesma.
Eduardo Ochs: na verdade nesse dia teve uma coisa que me deixou bem o resto do dia, sim, e na manha seguinte teve aula de bambole num parque e acho que foi a primeira vez que eu fui pra aula com um sorriso de orelha a orelha (nao permanente, mas ele voltava de vez em quando)... que foi que o Mauricio ficava tentando me dizer que o que eu tinha dito sobre ele tava errado, que eu nao tinha entendido ele, e que eu tava transformando ele numa caricatura...
Eduardo Ochs: e as minhas respostas foram todas em tom de "foda-se, eu nao tenho mais a menor pretensao de que voce va' me achar certo ou achar as minhas atitudes respeitaveis, eu realmente so' quero me afastar de voce, conviver com voce me faz mal e eu cansei"
Eduardo Ochs: pois e', e' dificil a gente aprender a dar patadas certas, ne'?
Mô: E te fez bem fazer isso? Outro dia conversei com o Luís Capucho sobre isso e ele falou muito legal sobre isso de se afirmar frente ao outro.
Eduardo Ochs: nesse caso fez, porque conviver com o Mauricio era um peso pra mim ha' anos
Eduardo Ochs: se bem que eu ja' queimei varias pontes tambem e nao me arrependi
Mô: Queimei, explodi, demoli...
Mô: Eu ando tão sozinha que até o moço de tirar foto de carteira de motorista ter sido bonzinho comigo me comoveu. Não tô me fazendo de vítima não. Tô só te confessando uma coisa.
Eduardo Ochs: Eu tenho estado meio assim tambem, e tou fazendo uma coisa que talvez seja ate' pessima, que e' organizar racionalmente as minhas paranoias...
Eduardo Ochs: algumas das minhas piores paranoias tem a ver com situacoes nas quais eu fui o mais legal que pude com pessoas em situacoes que eu achava que eram de confianca mutua e de repente eu vi que elas achavam que eu tinha dividas enormes com elas.
Eduardo Ochs: ai' hoje em dia e' comum eu ter medo de ser simpatico com alguem, ou dar um abracao em alguem, e a pessoa interpretar isso como eu ter dado em cima dela e ela ter me dado a coisa mais preciosa do mundo sendo um pouquinho simpatica comigo tambem e agora ela pode me cobrar mil coisas e me acusar de mil coisas pelo que ela me deu.
Mô: Edu, será que é pelo fato de a gente ser o mais legal que pode?
Mô: Pela força que a gente faz?
Eduardo Ochs: olha, na conversa com a Iaci ela me disse umas coisas que eu achei que eram meio cliches - por exemplo, que eu dou importancia demais pros outras e pras opinioes deles e que eu dou poder demais pra eles
Eduardo Ochs: eu entendi isso como um "voce nao pode se envolver tanto", "voce tem que ser mais casual"
Eduardo Ochs: pra voce eu posso dizer o que eu acho que ta' tao errado nessas ideias dela e voce vai entender
Eduardo Ochs: poxa, a gente e' super carente e morre de medo de se aproximar dos outros - em especial de se aproximar de algum jeito errado
Mô: Eu entendo. Todo mundo dá importância em certa medida. E todos nós damos poder aos outros. Nós existimos com os outros em volta.
Eduardo Ochs: ai' o moco da fotografia e' legal com a gente, ou alguem nao so' e' legal como ajeita o nosso vestido ou nos da' um abraco
Eduardo Ochs: e isso vira a coisa mais importante da semana pra gente
Mô: Vira. Ou do mês.
Eduardo Ochs: poxa, me parece que a Iaci esta' dizendo que eu nao posso dar tanta importancia pra uma coisa dessas, e que se eu nao der importancia nenhuma daqui a pouco TALVEZ esses gestos virem coisas mais casuais e menos raras e a sensacao de que eu vivo num mundo onde ninguem tem coragem de se aproximar de mim vai desaparecer
Eduardo Ochs: Eu sei que os cariocas morrem de medo de algo nao ser casual
Eduardo Ochs: muitos, muitos, MUITOS cariocas piram se descobrem em que algum gesto simpatico deles foi algo importantissimo pra gente
Eduardo Ochs: acho que eles acham que a gente vai se apaixonar por eles de algum jeito psicopata e persegui-los como a personagem do 9 1/2 semana de amor (do qual eu so' vi pedacos)
Mô: Que doido! Será que é por isso que a Lu se adianta e fala amor amor amor amor? Como uma defesa?
Eduardo Ochs: Pode ser
Eduardo Ochs: Ela fala tudo tao rapido e tao derramado e tao superficial que nada tem tempo de ficar verdadeiro
Eduardo Ochs: e essa correria toda faz com que ela nao ouca os outros e nem ouca a si propria e nao cria nenhuma relacao de escuta
Eduardo Ochs: (eu acho)
Mô: hahaha... que nem ela fala: eu acho. Mas é verdade. Quer dizer, nunca vi de perto.
Mô: Mas não precisa. A gente percebe. E é isso que você disse! Não existe escuta, tudo é rápido e derramado e, portanto, a linguagem fica prejudicada.
Mô: Que nem quando a Gabriela fez a pergunta do "eu te amo, mas amo mais a mim" ou algo assim. Ela soltou um treco psicanalítico que não fez sentido pra mim nem no português.
Eduardo Ochs: Eu lembro vagamente... eu tou tao sem saco pra Luciana que eu nao consigo mais prestar atencao em nada do que ela escreve...
Mô: O Guto falou a mesma coisa, mas ele me falou que sente excesso de empatia. Que sente pena de quem demanda dele. E é capaz de ir encontrar ela a contragosto e achar um saco. Mas não pra ser fingido e ficar bonito na fita nas fotos. É porque ela demanda, pede e ele sente pena dela.
Eduardo Ochs: Entendi
Eduardo Ochs: Bacana
Eduardo Ochs: Talvez eu seja assim `as vezes, e talvez eu tenha sido assim com o Mauricio durante anos... mas agora eu estou precisando me proteger
Eduardo Ochs: e precisando aprender a me proteger de determinados padroes comuns
Eduardo Ochs: por exemplo, carioquices
Mô: Oi, desculpa.
Mô: Sobre isso dos padrões eu pensei em como você pega lá no passado pra lidar com o presente.
Eduardo Ochs: Q?
Mô: Aliás, pega no passado e vai lidando no presente.
Eduardo Ochs: Sim =)
Mô: Você pega seu casamento, sua briga com o Maurício (valee passado recente), pega coisas que te aconteceram e vai revivendo no pensamento, só que pensando, diferente.
Eduardo Ochs: Sim, eu tenho feito isso a beça e tem funcionado bem =)
Mô: Acho que preciso mudar daqui mesmo.
Eduardo Ochs: Pelo que você já contou eu acho muito que sim...
Mô: E eu fico feliz e te admiro demais porque eu vejo um movimento seu de vida, de pegar esse passado e destrinchar, e achar quem queira dividí-lo com você e ao mesmo tempo topar ouvir a outra pessoa.
Eduardo Ochs: Pôxa, obrigado por achar que eu ouço os outros =|
Mô: Mas é claro que você ouve.
Mô: Você tem umas tiradas e percepções de pessoas que só tem quem observa o outro.
Eduardo Ochs: Cara
Eduardo Ochs: O Maurício reclamou que eu só quero falar dos meus assuntos
Eduardo Ochs: E que os meus assuntos são todos coisas que me envolvem de algum modo
Eduardo Ochs: O Maurício quis dizer que eu não quero falar dessas coisas distantes que são assuntos típicos de senhores sentados nos seus sofás cada um tentando mostrar que leu mais jornais e livros e entendeu esses melhor e chegou a conclusões melhores - como economia, democracia, história e Cuba
Eduardo Ochs: Esses -> eles
Mô: Ele tá falando que você quer falar da vida de cá, de nós cada um?
Eduardo Ochs: Sim - e tem uma coisa que ele pulou de propósito, que é que eu acho que quando a gente conversa sobre a melhor teoria política, por exemplo, a gente tem que falar também sobre o que a gente vai fazer pras nossas idéias se propagarem
Mô: claro! aí a gente tem que falar da gente.
Mô: primeiro a gente tem que se entender.
Eduardo Ochs: O Maurício quer ter seguidores que ignoram que ele fala compulsivamente, não nota quando está sendo chato e não consegue arrumar a própria casa.
Mô: Mas ele é chato no geral?
Eduardo Ochs: Sim.
Eduardo Ochs: Aliás, acho que às vezes as pessoas acham ele um maluco engraçado
Mô: eu fico tentando inventar uma figura pra esse cara.
Eduardo Ochs: Ih, não tenho foto dele pra te mandar
Eduardo Ochs: Acho que a coisa que mais fez eu ir me irritando com ele mais e mais foi que ele ignorava tudo que eu tentava falar sobre gênero e como eu tava tentando me afastar cada vez mais de comportamentos masculinos
Eduardo Ochs: E ele sempre voltava a esses papos de senhor na sua poltrona e a uns assuntos de sexo e às coisas dele com travestis prostitutas.
Mô: Tipo, ele parece ter um grilo sexual.
Mô: Mas ele nega.
Eduardo Ochs: Ele tem, mas repara como ele lida com o dele de um jeito oposto ao meu... bom, vou contar comecando por umas ideias que eu so' consegui arrumar direito bem recentemente...
Mô: ele nega apontando o dedo pra você.
Mô: Eu tô falando o que tá me vindo, tá?
Mô: Eu não conheço.
Eduardo Ochs: a coisa que mais me desesperou quando eu entrei na puberdade e comecei a ter pensamentos sexuais o tempo todo era a sensacao de que aquilo era uma energia de pessima qualidade, feita de ansiedade e compulsao, e que me lembrava aquelas coisas que a gente ve em pornos pessimos nos quais cada ator parece uma maquina que nao pode parar nunca e nao para, e o ator e a atriz nao tem nenhuma comunicacao um com outro, parece que cada um ta' fazendo a sua coisa num solo...
Mô: Mas eu falo. Conversa de adultos.
Eduardo Ochs: fala sim plz =)
Mô: sei. isso trava a gente sim.
Mô: ou faz com que seja pior.
Eduardo Ochs: eu odiava aquilo e foi ficando claro pra mim que seria quase impossivel alguem se aproximar de mim e gostar de mim enquanto eu tivesse aquela energia - aquilo era inconveniente e meio repulsivo, e as outras pessoas que funcionavam daquele jeito ja' tinham me indicado que eu nao tinha nenhum dos pre-requisitos pra elas ficarem comigo - tipo autoconfianca.
Eduardo Ochs: Entao eu comecei a achar que aquele tipo de energia sexual quando me viesse eu tinha que deixar passar
Eduardo Ochs: se eu deixasse ela passar eu aos poucos poderia ia encontrando uma energia melhor, que fosse o oposto dessa coisa que nao prestava atencao aos outros, e, pelo contrario, os atropelava e ignorava quando eles ficavam incomodados.
Eduardo Ochs: O Mauricio nunca fez nada parecido com esse processo que eu fiz.
Eduardo Ochs: Eu vejo ele como alguem que associa sexo a algo ansioso e compulsivo.
Eduardo Ochs: E nos ultimos encontros que eu tive com ele - principalmente no ultimo - ele fez exatamente o que voce apontou
Eduardo Ochs: Ele fcava so' dizendo que as minhas acusacoes estavam erradas.
Mô: Desculpa. Vou ler.
Eduardo Ochs: Nem passou pela cabeca dele que ouvi'-las e tentar descobrir qual parte das minhas acusacoes fazia sentido - e apontava pra coisas que ele fazia e que me doiam e me desesperavam e eu nao aguentava mais - podia ser uma estrategia muito melhor
Mô: A internet do computador caiu e eu me vi. Vou continuar no celular.
Eduardo Ochs: ta' =)
Eduardo Ochs: tou falando meio compulsivamente sobre esse caso do Mauricio.
Eduardo Ochs: Eu quero tentar usar essa situacao pra conseguir por em palavras como eu funciono de um jeito oposto ao dele e como eu quero distancia de pessoas que funcionam como ele.
Eduardo Ochs: ou, em outras palavras, como eu sempre tentei funcionar diferente dele
Eduardo Ochs: sim
Mô: E por isso a proximidade?
Eduardo Ochs: minha com ele?
Eduardo Ochs: acho que nao
Eduardo Ochs: ele foi pirando mais e mais depois que a gente terminou a faculdade e praticamente nao arranjou novos amigos
Eduardo Ochs: ai' ele pedia pra se encontrar comigo e eu achava ele chato mas eu achava que era importante pra ele
Mô: eu já tive situações de não aguentar uma pessoa e mesmo assim ser amiga dela. mas nunca amiga desse tipo de papo.
Mô: então não é amiga.
Eduardo Ochs: por isso que eu me permiti chutar o balde tanto.
Eduardo Ochs: eu disse pra ele montes de vezes que eu nao queria mais ouvir sobre certos assuntos
Eduardo Ochs: sim
Mô: entendi! eu já fico me obrigando a cuidar da pessoa, ou a não largar por pena.
Mô: por isso eu aguentei e dei forçar para a lu até que eu não aguentei e explodi.
Eduardo Ochs: ne'? <3 =)
Mô: aí eu sinto um misto de alívio e de culpa, que eu sou viciada em culpa, mas muito mais de alívio.
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