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% (find-TH "falta-misandria-0") % (find-es "tex" "breakurl") \def\ni{\noindent} \ni Uma discussão no grupo ``Transfeminismo $<\!\!3$''. \ni Post inicial, depois meus três comentários. \bigskip \ni {\bf De:} Virginia \ni {\bf Em:} 1º/maio/2015 21:41 Meninas, queria ajuda pra opinar num tema tão delicado. Achei o texto BEM TRANSFÓBICO, os conceitos de identidade de gênero e a questão da ``mulher materialmente'' (CIS). É bem bizarro, mesmo assim, o debate sobre estupros corretivo é foda e não pode ser silenciado tbm.... {\bf O Queer promove estupro corretivo de lésbicas}\footnote{\myburl{https://milfwtf.wordpress.com/2015/04/28/o-queer-promove-estupro-corretivo-}{de-lesbicas/}} \bigskip \ni {\bf De:} Eu \ni {\bf Em:} 2/maio/2015 05:32 Eu sempre leio esses textos de TERFs com uma certa curiosidade... e só agora, depois de pensar horas nesse aí enquanto eu rolava na cama, acho que entendi o porquê. A autora dele fala de certas coisas irracionais como se fossem perfeitamente racionais e razoáveis. A gente sabe que coisas são essas - são ``deslizamentos'', como a Bia explica super bem neste texto aqui, \noindent \url{http://transfeminismo.com/o-banheiro-e-a-ideologia/} \noindent entre ``pênis'', ``estuprador em potencial'', ``estuprador'', ``estupro corretivo'', etc. As afirmações do texto são delirantes e até nocivas pra outra pessoas; disto a gente está careca de saber e de dizer. Deixa eu falar sobre OUTRA coisa. A autora tem uma segurança pra falar dessas coisas que tem um quê de invejável. Tenho lido ultimamente um monte de textos de pessoas que tiveram problemas de auto-aceitação enormes, mas que agora escrevem coisas como ``eu sou gorda e negra, mas agora eu tenho orgulho disso, eu sou foda, e eu me amo''. Esse tom, que eu chamo de ``empoderado'', dialoga bem com os discursos de certeza que a gente vê por aí em todo lugar - em muitos meios a coisa mais importante pra você ser ouvida é você ter \_muita\_ segurança do que está dizendo. Bom, deixa eu copiar aqui um trecho de uma das minhas primeiras mensagens de saída do armário. Ela ficou super bem escrita, e não vale a pena eu tentar parafraseá-la ao invés de copiar do original. ``No início, quando eu era pequeno, eu achava só que eu tinha dado azar. As meninas podiam fazer tudo de legal e podiam pensar e conversar sobre o que queriam e serem sinceras; já os meninos tinham que ficar fingindo o tempo todo que gostavam de um monte de coisas idiotas só pra provarem pros outros que eles eram machos, e ficar fazendo papel de macho era algo tão infernal que a gente vivia explodindo de frustração e raiva... aí o que eu entendia era que os outros meninos descarregavam essa raiva se sacaneando e se batendo, e eles ficavam tão ocupados com isso que eles não tinham tempo pra pensar nada de diferente... e como eu era magro e fraco e tinha defeitos de personalidade eu não conseguia me encaixar e aí eu ficava só vendo tudo como se eu estivesse de fora... e eu tinha a impressão - aliás, a ``esperança''! - de que se eu me esforçasse MUITO e virasse uma pessoa muito interessante quando eu crescesse eu acabaria encontrando as outras pessoas que também sabiam que o mundo masculino era uma farsa, e teriam construído jeitos de viver fora dessa farsa...'' Então, voltando ao texto da TERF... o que ele tem que é um pouquinho invejável é que a autora consegue falar de assuntos que são gatilho pra ela - e ``pênis'' é mega-gatilho pra ela - sem engasgar no meio de cada frase pela certeza de que não só não vai ser entendida como vai ser patologizada. Quantos assuntos a gente tem, principalmente sobre motivos que nos levaram à transição, e fobias e gatilhos que permanecem mesmo depois da transição, que a gente mal se atreve a conversar com meia dúzia de pessoas mais próximas? O tom da TERF autora do texto pra mim é um tom masculino, pelo excesso de afirmações e pela falta de auto-crítica =(... mas eu fiquei imaginando, nesse tempo em que eu fiquei rolando na cama e pensando depois de ler o texto dela, o quanto pode ser empoderador pras mulheres irem em encontros de RADs cheios de TERFs e poderem falar livremente sobre coisas que em outros espaços pareceriam paranóias, e serem ouvidas. Na verdade acho que o principal motivo de eu pensar tudo isso é que eu tenho tido super poucas oportunidades de encontrar outras pessoas trans ao vivo, e algumas coisas que eu tenho lido de ativistas trans - por exemplo isto (principalmente os comentários): \noindent \url{https://www.facebook.com/andreigiu/posts/1559902204276071} \noindent me dão uma nóia de que em eventos trans eu talvez acabasse ficando à margem num canto sem conseguir me expôr ou puxar papo com quase ninguém, porque a minha vivência é bem diferente dos relatos que eu vejo... eu comecei a TH muito tarde, e antes disso eu vivi meio invisível, tentando fazer com que aparência física, namoros, sexo, etc, ficassem bem em segundo plano na minha vida - eu pensaria direito nessas coisas quando eu crescesse... então, sei lá, vai que os espaços trans estão ocupados só pelas pessoas que tem questões ``externas'', as pessoas que o tempo todo põem a cara no sol e levam porrada, e elas não têm mais questão ``interna'' nenhuma?... % \bigskip \newpage \ni {\bf De:} Eu \ni {\bf Em:} 2/maio/2015 05:32 Tudo bem que várias pessoas aqui acharam o texto de TERF péssimo sem nem lê-lo... mas eu fui relê-lo agora pra escrever mais sobre ele - ou aqui ou só pra uma amiga minha - e achei ele MUITO bom. Eu tinha ficado com a impressão de que a autora deixava \_explícito\_ que ela tinha sido violentada, e aí a partir desse ponto do texto ela iria se permitir falar sobre os gatilhos dela e sobre ela ver estupro em todo lugar... agora que eu reli eu vi que não é bem assim, tá só implícito, mas escrito de um jeito tão forte que dá pra inferir as vivências dela - e, aliás, depois que eu fucei um pouco mais o site dela, vi que estão escritas em detalhes em outros posts. Tem uma coisa lá no meio do texto dela que eu achei MUITO foda. Ela diz: ``NÃO SABER LIDAR COM UM NÃO PARA UMA INVESTIDA SEXUAL É SOCIALIZAÇÃO MASCULINA''. Eu tou há meses tentando deixar mais claro o que é ``homem'', ``mulher'', ``masculino'', ``feminino'' pra mim e porque o ``mundo masculino'' era um inferno, e essa idéia é uma boa chave de pensamento. \bigskip \ni {\bf De:} Eu \ni {\bf Em:} 3/maio/2015 06:57 ...e eu ia comentar aqui que acho uma estratégia ruim a gente chamar as histórias pesadas dos outros de mimimi, porque isso praticamente convida as outras pessoas a dizerem que as nossas histórias são mimimi também... mas fiquei deixando pra quando eu conseguisse escrever de um jeito mais caprichado, e agora vi que ao invés de usar as minhas palavras eu posso fazer uma citação. Lá vai. \begin{quote} ``Quem se omite diante da dor não escolhe a neutralidade. Escolhe afundar ainda mais a vítima numa lama de culpas, nojos e medos. E eu só tinha o papel para enfrentar o que passava sem perder a lucidez.''\footnote{\myburl{https://milfwtf.wordpress.com/2014/06/23/sobre-pedofilia-e-a-minha-primeira-}{historia-de-horror/}} \end{quote} \newpage \ni Pouco depois do meu último comentário \ni me baniram do ``Transfeminismo $<\!\!3$''. \ni Duas semanas depois comentei isto \ni aqui no grupo ``Feminismo Trans'': \bigskip \bigskip \ni {\bf De:} Eu \ni {\bf Em:} 16/maio/2015 02:40 ...e eu tou aqui torcendo pra pessoa ``ex-trans virando rad'' não ser eu, porque deve ter pelo menos 3 pessoas me rotulando assim agora... me expulsaram de um grupo e várias pessoas me bloquearam sem explicação depois que eu escrevi essas coisas aqui, \url{http://anggtwu.net/falta-misandria.html} eu sei que eu pisei em gatilhos, mas não imaginei que ia ser tão grave... porque por mim eu estava tentando pensar exatamente sobre que tipos de ``pertencimento'' a gente deveria estar procurando - tem coisas que acabam me soando como a rixa eterna da turma da rua de cima com a turma da rua de baixo... \bigskip \bigskip \ni Aí uma pessoa que também estava no grupo anterior disse: ``Vc foi expulse do grupo porque concordou com um texto totalmente transfobico'' e ``E ainda ficou relativizando transfobia'', e pouco depois me baniram do ``Feminismo Trans'' também. % \newpage % Eu consegui reconstruir a discussão no ``Transfeminismo $<\!\!3$'' % - só até terem me banido, claro - a partir dos falas que % apareciam nos e-mails de notificação que o Facebook me mandava. % Pus aqui: % \url{http://anggtwu.net/falta-misandria-0.html} % Local Variables: % coding: raw-text-unix % End: