Sabemos que os alunos de Engenharia de Produção nunca se envolvem politicamente com nada - eles dizem que "não têm tempo", que essas coisas "não funcionam", que elas "não têm a ver com eles", e que participar de manifestações "pode prejudicá-los".
Muitas pessoas já receberam um e-mail da ANDES-RJ (http://www.andes.org.br/) com o título: "INTERVENÇÃO NA UFF - FESTIVAL DE CORRUPÇÃO". Este e-mail contém uma denúncia sobre o Projeto Anvisa (http://www.anvisa.gov.br/), que envolve vários professores de Engenharia de Produção do PURO - mas só o Moacyr, vice-diretor do pólo, é citado nominalmente -, e várias outras denúncias sobre a Reitoria. Mas estas denúncias são apenas denúncias por enquanto... o que temos de absolutamente concreto são estas relações de despesas do governo (clique em "Lista dos favorecidos finais"):
Suponha que o TCU aceite a denúncia e investigue estas despesas. O que vai acontecer? Os envolvidos podem ter que prestar contas, podem ter que responder a um processo... Punições além deste ponto são raras - o que aconteceu com o Reitor até agora? E com o Lentino? E será que estes nossos professores vão passar a se dedicar menos ainda ao PURO porque estarão ocupados preparando prestações de contas e defesas???... Será que eles não poderiam ter agido transparentemente e de acordo com a lei desde o início?
Os professores que tiverem que responder a estes processos ficarão com suas reputações ligeiramente arranhadas. Quais as conseqüências disto? Será que isto afetará os outros professores da Engenharia de Produção de algum modo? O que eles acham disto tudo? Se o Moacyr for processado, por exemplo, será que eles vão achar só que foi uma fatalidade?... Que este é o modo mais eficiente de se fazer negócios, que as exigências de transparência feitas pelo governo só atrapalham, que se o Moacyr foi pego foi porque ele foi otário, e o que aconteceu com ele não tem nada a ver com os outros?
Professores são sempre formadores de opinião (em algum sentido). Estes professores mostram para os seus alunos como o "mercado" funciona - e mostram que o risco de ser denunciado sempre faz parte do negócio. "Empreendedorismo" talvez seja isto - aproveitar as melhores oportunidades, tentando minimizar os riscos. E "profissionalismo" envolve fazer alianças, se expôr pouco, e acobertar os colegas... Estes professores formam os alunos da Engenharia de Produção - que não se envolvem em questões "morais" ou "políticas", porque estão muito ocupados, porque teriam muito a perder, e porque eles não sentem que têm a ver com o que acontece em torno deles.
Esta atitude - eles são "práticos" e "realistas", os outros são "sonhadores" e "idealistas" - está quase que completamente consolidada, e não vai mudar só com uma ou duas passeatas, ou com eles sendo mal-vistos durante uma semana, ou com umas poucas pessoas centrais tendo que enfrentar prestações de contas e um processo. A questão, para todos os que se incomodam - alunos, professores, funcionários, amigos, parentes, cidadãos, que pagam impostos diretos ou indiretos - é maior, e é permanente: como lidar como estas pessoas no dia-a-dia? Como dialogar com elas se as nossas questões "morais" pra elas são "frescuras"? Se elas não são nem mesmo mal-vistas socialmente, quais são as conseqüências - para elas - do que elas fazem? Se não fazemos nada estamos sendo cúmplices? O que podemos fazer pra que honestidade deixe de ser "coisa de otário"?
(2010nov16)
Update: vai haver uma reunião do CONPURO na 6ª feira, 26/nov/2010, de manhã, provavelmente no auditório, na qual um dos tópicos será esta denúncia, com um pedido de esclarecimentos aos envolvidos. A reunião é aberta, e muitos alunos - principalmente da Psicologia - estão pretendendo ir. Acho que vai ser muito interessante! Vou pôr mais informações sobre a reunião aqui assim que eu souber os detalhes.